Era tão incoerente a proibição de parcelamento do IPVA em um Estado que tem dificuldades adicionais em relação a outras unidades da federação, que não restou outra alternativa ao Piratini senão voltar atrás. É um acerto, inclusive de discurso do governador Eduardo Leite, que assumiu pessoalmente a responsabilidade – "eu errei", disse na manhã desta terça-feira (5). Mas como todos os equívocos, este precisa deixar lições. A principal, neste caso, é que, antes de anunciar medidas drásticas, é preciso passá-las pelos filtros do bom senso e do custo/benefício. A medida não passaria em nenhum.
O primeiro problema foi ter anunciado, no mesmo dia e no mesmo momento, tratamento vantajoso para empresas inadimplentes de ICMS e rigoroso para quem ainda não está nem devendo IPVA. Criou dois pesos e duas medidas, aumentando o impacto do fim do pagamento em prestações do impostos sobre os carros.
Outro foi o fato de o mesmo Estado que parcela salários, como impactos para toda a sociedade, impedir pagamento em prestações dos compromissos de contribuintes. E para completar, o momento econômico em que a medida foi adotada, de aumento no percentual de famílias com contas atrasadas no Estado, criava um risco para o próprio Piratini, ou seja, de que o IPVA fosse para o fim da fila das faturas sem fundos para as famílias gaúchas.
Na véspera, as tentativas de justificar a medida esbarravam na falta de respeito ao senso comum. Uma era a comparação com Santa Catarina, que não parcela salários; outra que o percentual dos que pagam parcelado é baixo. Esta jornalista, por disciplina aprendida em casa sobre orçamento doméstico, costuma antecipar, até por ser vantajoso. Mas quem o faz, é certamente por não ter outra opção. É fato que o problema do Piratini não é falta de sensibilidade, mas de dinheiro, como disse o governador nesta terça-feira (5). Por isso mesmo, é preciso guardar o "saco de maldades" para o que é realmente inevitável. Como ficou claro, o pagamento em cota única do IPVA não era.