O que foi concebido como uma estratégia do presidente Donald Trump para pressionar a China na disputa comercial travada com os Estados Unidos virou um tiro no pé. Depois que Trump decidiu cobrar mais 10% de sobretaxa sobre a importação de produtos chineses nos EUA que soma US$ 300 bilhões anuais, os chineses reagiram à sua maneira: desvalorizaram a moeda nacional. Pela primeira vez em mais de uma década, o yuan foi negociado nesta segunda-feira acima de US$ 7, e alcançou 7,0391. Equivale a uma desvalorização de 5% em relação à máxima de fevereiro, quando a moeda chinesa valia 6,6862. Imediatamente, Trump acusou a China de manipulação do câmbio, o que desestabilizou os mercados em todo o mundo.
No Brasil, a bolsa passou boa parte do dia operando abaixo dos 100 mil pontos atingidos em 18 de março. No final da sessão, porém, conseguiu por um triz, suavizar a queda e resgatar o nível. Fechou em 100.097 pontos, mas com queda feia, de 2,51%, alta mesmo para padrões nacionais de volatilidade. O dólar também reagiu com intensidade, registrando a maior alta diária dos últimos quatro meses, de 1,69%, que levou a moeda americana outra vez para perto de R$ 4. A cotação de encerramento foi de R$ 3,957.
Com a desvalorização da moeda chinesa, o país recupera parte da competitividade que seria retirada pela sobretaxa imposta por Trump. O resultado é que o temor global, agora, não é mais apenas de uma guerra comercial, envolvendo as duas maiores potências do planeta. O novo alvo da batalha é o mercado de câmbio, que embute ainda riscos ainda maiores e com efeito contágio mais rápido, como se viu nesta primeira segunda-feira (5) de agosto, mês marcado por dissabores no Brasil. A outra retaliação da China, a suspensão de compra de produtos agrícolas americanos, até abre oportunidade para o Brasil, segundo maior fornecedor nessa área. Mas as ameaças em outros segmentos são incomparavelmente maiores.