WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, decidiu nesta quarta-feira (1º) suspender a trégua na guerra comercial com a China e anunciar uma tarifa adicional de 10% sobre US$ 300 bilhões (o equivalente a R$ 1,1 trilhão) restantes em importações chinesas no país a partir de 1º de setembro.
O anúncio de Trump ocorreu um dia depois de o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) cortar as taxas de juros pela primeira vez em mais de uma década, em uma tentativa de proteger dos riscos mundiais crescentes a expansão da economia dos EUA, incluindo as incertezas causadas pela guerra comercial com chineses.
Após as declarações do presidente americano, os índices acionários dos EUA reduziram ganhos, e Dow Jones passou a operar em território negativo, e o petróleo despencou.
A avaliação de analistas que acompanham as negociações é que o presidente reverteu o cenário de boas práticas estabelecido durante a reunião da cúpula do G20, no Japão, por considerar que os chineses não cumpriram sua parte no acordo.
Apesar disso, ponderam, Trump não pretende encerrar as tratativas comerciais com a potência asiática, e o mercado deve recuperar as perdas iniciais após o anúncio desta quarta via equilíbrio fiscal, com uma esperada desvalorização da moeda chinesa.
"As negociações comerciais continuam e, durante as conversas, os EUA começarão, em 1º de setembro, a colocar uma pequena tarifa adicional de 10% sobre os US$ 300 bilhões restantes em bens e produtos vindos da China para o nosso país ", escreveu Trump no Twitter.
"Isso não inclui os US$ 250 bilhões já tarifados em 25%."
Durante o encontro dos líderes em Osaka, no fim de junho, Trump e o dirigente chinês, Xi Jinping, combinaram um cessar-fogo comercial em que os EUA permitiriam vendas expandidas de suprimentos de tecnologia para a gigante chinesa de Huawei.
Enquanto isso, os orientais comprariam produtos agrícolas americanos, como a soja, e encerrariam as vendas do opioide sintético fentanil ao país.
Os chineses, de fato, anunciaram na semana passada pelo menos cinco produtores dos EUA que estariam isentos de tarifa, mas o presidente americano disse que eles não efetivaram a medida.
Em suas redes sociais, Trump criticou a contraparte asiática mais duramente sobre as vendas do fentanil.
"Recentemente, a China concordou em comprar produtos agrícolas dos EUA em grande quantidade, mas não o fez", escreveu.
"Além disso, meu amigo presidente Xi disse que iria parar de vender o fentanil para os EUA --isso nunca aconteceu e vários americanos continuam morrendo!", escreveu o presidente em referência à crise dos opioides que tem assolado o país.
Especialistas nas negociações comercial observam que o presidente americano não colocou uma condicional em seu anúncio, deixando em aberto a possibilidade de voltar atrás com a implementação das tarifas caso a China suspenda realmente a venda do opioide e passe a comprar os produtos de agricultores americanos.
Negociadores dos EUA e China encerraram dois dias de conversas em Xangai na quarta com poucos sinais de progresso, embora ambos os países tenham descrito as negociações como construtivas.
Uma nova rodada de reuniões entre os negociadores foi marcada para setembro.
Como mostrou a Folha de S.Paulo em junho, a escalada da guerra comercial entre as duas maiores potências mundiais abre espaço para o crescimento nas exportações de 34 produtos brasileiros ao mercado americano.
As transações poderiam avançar em até US$ 4,25 bilhões dos US$ 250 bilhões de bens chineses taxados pelo governo Trump, entre eles ferro, plástico e madeira.
Hoje, o Brasil exporta US$ 1 bilhão desses mesmos produtos, ou seja, haveria oportunidade de o país elevar as vendas em pelo menos US$ 3 bilhões com a disputa entre as potências econômicas.