O pedido de recuperação judicial da Odebrecht, na semana passada, é um dos motivos pelos quais a Operação Lava-Jato deve, sim, respostas ao país sobre a condução dos investigadores.
Em 2015, quando o Brasil entrou em recessão da qual ainda está longe de se recuperar, era comum ouvir, em rodas de conversa empresarial, questionamentos sobre o custo das investigações. Não se tratava do preço pago pelo trabalho da Polícia Federal ou dos promotores, nem o transporte das dezenas de presos, mas o das consequências econômicas que se seguiam às buscas e apreensões ou prisões de donos de empresas.
A formação de ampla maioria favorável à operação entre o empresariado não se deu sem debate sobre encomendas perdidas, perda de relevância internacional do setor de serviços de engenharia e empregos destruídos. Além das 23 empreiteiras investigadas, havia 51 mil CNPJs envolvidas na apuração, entre fornecedores, investidores e prestadores de serviço, que foram afetados por fechamento, perda de relevância, recuperação judicial ou mesmo encerramento de atividades.
Na época, calculava-se que os respingos da Lava-Jato atingiam negócios que representavam cerca de 13% do PIB do país. Depois de certa resistência, prevaleceu entre empresários o consenso de que era preciso pagar o “custo- limpeza” para que o país mudasse de cultura e não aceitasse mais arranjos fraudulentos, negociatas inconfessáveis e acordos de ocasião. O apoio significou também a vontade de civilizar o ambiente de negócios do país.
Até agora, nenhuma das relevações publicadas pelo site The Intercept Brasil isenta de responsabilidade qualquer dos investigados. Nem autoridades, nem empresários. No entanto, a Lava-Jato precisa voltar ao que era: um passo na trajetória do Brasil rumo a padrões da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), tão destacada no atual governo. Para que todos possamos encarar seu custo político e econômico sem arrependimentos, são necessárias respostas, sim. Não só à Câmara dos Deputados, adiada ontem pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, mas para toda a sociedade. Sem compadrio, sem manobras difíceis de explicar.