Um ponto a se prestar atenção nas críticas à privatização da CEEE é a que atribui parte das dificuldades que a empresa vive hoje a erros do passado. É fato. Um dos equívocos do modelo de venda dos anos 1990 foi separar a área de distribuição em três, das quais apenas uma se manteve estatal, e deixar passivos espetados na conta pública. A intenção foi aumentar o preço de cada uma das empresas e, consequentemente, a arrecadação do Tesouro do Estado.
Por mais que houvesse plano de seguir com o processo, interrompido pela mudança do inquilino do Piratini, foi uma decisão conveniente para o governo de plantão e desastrosa para a empresa. Não é só por esse motivo que a CEEE acumula passivo bilionário, mas houve forte impacto nas contas da empresa. Desta vez, a premência por recursos é ainda maior. Na modelagem da privatização da CEEE, será preciso levar em conta o interesse público de longo prazo, não a emergência financeira do Estado.
Vender o ativo e manter o passivo é o pior negócio possível. Salva a empresa, garante o serviço a seus clientes, mas deposita mais dívidas no colo dos contribuintes. Não é uma conta que será paga por sucessivos ocupantes do Piratini, mas por todos os gaúchos. Evitar cometer os erros do passado precisa ser um norte para o atual governo.
Não será fácil solucionar a equação que torne a venda da CEEE atraente para os investidores, consistente com as necessidades do Estado de atingir objetivos para aderir ao regime de recuperação fiscal (RRF) e sustentável para os cidadãos. Mas se não houver resposta adequada, o erro ecoará no futuro.