
Associados ao clima tenso no Exterior, sinais na direção oposta à esperada dados pelo novo governo desde a noite de ontem estão sendo interpretados no mercado financeiro como "traição" do presidente em relação a seu ministro da Economia, Paulo Guedes. Na noite de quinta-feira (3), Bolsonaro sinalizou o que investidores e especuladores consideram uma reforma light da Previdência, com idades mínimas de 57 anos para mulheres e 62 anos para homens. Além disso, em vez de reduzir as renúncias fiscais, como apontou Guedes no discurso de transmissão de cargo, aprovou a prorrogação de incentivos às empresas da Sudam (Amazônia) e Sudene (Nordeste).
Trata-se de redução de 75% no imposto de renda das empresas que atuam nas duas regiões, o que é apontado como uma distorção tributária no país que já tem tantas.
As áreas técnicas da Fazenda e do Planejamento haviam recomendado veto à manutenção. Bolsonaro decidiu sancionar a manutenção do benefício fiscal, gerando uma despesa para 2019 que não estava prevista no orçamento. Como vetou parcialmente pontos da regra, o valor deve ser um pouco inferior a R$ 3,5 bilhões, mas ainda precisa de cobertura.
A solução estudada agora no Ministério da Economia seria a primeira elevação de tributos do governo Bolsonaro. E o escolhido seria o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), cuja média atual é de 0,38%. Há incidências maiores, como na compra de moeda estrangeira e em gastos do cartão de crédito no Exterior, que saltam a 6,38%. Na visão de analistas, além de contrariar o discurso de Guedes, o governo marca uma de suas primeiras medidas com o sentido inverso: eleva renúncia e incentivo fiscal. O resultado é que, depois de dois dias contrariando o cenário externo, o mercado financeiro reage, ainda que com leveza: o dólar sobe e a bolsa cai.