
Quem conhece a intimidade da indústria automobilística vê os últimos movimentos da General Motors (GM) e a insinuação de que poderia deixar o Brasil apenas como um despiste e uma estratégia para ter menores resistências para cortar custos. Afinal, não há lógica em abandonar um mercado em que é líder folgada e o terceiro mais importante para a empresa no mundo, atrás apenas da China e dos Estados Unidos.
A GM tenta barganhar com fornecedores para os seus projetos em andamento de novos carros. Já avisou distribuidores que, este ano, terão de comprar carros mais caros da companhia. Ou seja, reduzir as suas margens e dar a sua parcela de sacrifício na busca da empresa por melhorar seus resultados financeiros. Ao mesmo tempo, tenta impor aos trabalhadores onde tem fábrica uma drástica redução de benefícios trabalhistas. Assim, colocou o bode na sala.
A advertência de que, caso não consiga reduzir seus custos, haveria comprometimento no próximo ciclo de investimentos, tem endereço: a fábrica de São Caetano do Sul, a mais antiga da montadora do Brasil, onde há um sindicato mais forte e os custos de produção são maiores.
Especialistas apontam que, para fazer um bom upgrade na unidade, o gasto seria maior e a planta teria de, inclusive, ser paralisada. Assim, o mais viável no médio e longo prazo seria fechar aos poucos São Caetano do Sul e apostar na fábrica de São José dos Campos, também em São Paulo. Como o governo federal também não se mostrou disposto a dar mais subsídios, a culpa poderia ser repartida. O possível fechamento de São Caetano do Sul, especulação que não é nova, ainda fortaleceria a fábrica de Gravataí, a mais moderna e importante da GM na América do Sul e de onde sai mais da metade dos veículos vendidos pela empresa no país.