No passado foi a Ford que ameaçou deixar a América do Sul e o Brasil, alegando acúmulo de prejuízo. Agora é a vez de a General Motors (GM) acenar com a possibilidade, pela mesma razão. Apesar de ser a líder do mercado desde 2015 no país e com um plano ambicioso de investimentos em andamento, a GM diz estar insatisfeita com os resultados.
A queixa foi escancarada em e-mail interno e comunicado fixado em quadro das fábricas no Brasil. O presidente da montadora na América do Sul, Carlos Zarlenga, cita reportagem do jornal Detroit News. No texto, a presidente mundial na companhia, Mary Barra, avisa que existe a possibilidade e sustenta que a empresa não vai "continuar investindo para perder dinheiro". Este ano seria o decisivo, com a obrigação voltar ao azul, após perdas financeiras de 2016 a 2018 no Brasil.
O perigo seria real ou uma jogada para tentar reduzir custos? Se for verdadeiro, seria uma péssima notícia para o Estado. Afinal, está em Gravataí a principal fábrica da empresa na América do Sul. É onde é fabricado Onix, campeão de vendas no país desde 2015 e que catapultou a montadora ao topo do pódio. Parece um pouco contraditório deixar um país onde é a líder de mercado — teve 17,58% de participação ano passado em automóveis de passeio e comerciais leves. Claro que volume de vendas não significa necessariamente rentabilidade, mas especialistas repetem que a margem de lucro das montadoras no Brasil é acima da média mundial. E é também curiosa a ameaça com a crise começando a ficar para trás.
Em 2015, no auge da recessão e do tombo da vendas de automóveis no Brasil, a GM fez juras de amor ao país e anunciou que dobraria seu plano de investimentos por aqui. Até 2019, seriam R$ 13 bilhões. Novos modelos estão saindo do forno no Estado e em São Paulo. Só na fábrica de Gravataí o aporte detalhado na metade de 2017 é de R$ 1,4 bilhão.
O plano apresentado à matriz para reverter a situação não terá apenas mudanças internas. Prevê repartir os sacrifícios com governo, concessionários, empregados, sindicatos e fornecedores.