Cada governo tem todo o direito de organizar seu organograma da forma como considera mais adequado, mas o tratamento dado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, a dois ministérios pode render mensagem indesejada. No futuro governo, haverá uma pasta exclusiva para o Turismo, mas a do Trabalho, conforme detalhado nesta segunda-feira (3) pelo indicado à Casa Civil, Onyx Lorenzoni, será fatiada em pelo menos três outras estruturas.
No país que mantém um contingente de 12,3 milhões de desempregados, é um pouco mais difícil entender por que Turismo tem prioridade sobre Trabalho. Sequer a visão menos informada é favorável: embora as atividades relacionadas a viagens e hospedagens sejam importantes para dar ritmo à economia, representam um segmento ainda estreito, especialmente no Brasil.
O retrospecto de irregularidades no Ministério do Trabalho torna a desaparição da pasta mais palatável para brasileiros e no Exterior. Por isso, a justificativa de que a área sindical, foco da corrupção, ficará sob responsabilidade do Ministério da Justiça tem eco entre os brasileiros e até no Exterior, onde se conhece bem a extensão dos escândalos, mesmo os que não envolvem a Petrobras.
Não é a existência de um ministério que garante políticas favoráveis ao emprego. Manter a pasta também não mudaria o fato de que a abertura de postos de trabalho depende mais do vigor da economia do que de políticas públicas. Mas a escolha torna mais evidentes duas fragilidades do futuro governo.
De um lado, a dificuldade de lidar administrativamente com um foco de irregularidades sugere pouca confiança nos instrumentos de cobrança de conformidade às regras. Ainda expõe algum grau de rejeição à ideia de proteção ao trabalho que, se por um lado tem muitas distorções no Brasil, é praticamente universal.
O outro lado, a indicação de Marcelo Álvaro Antônio (PSL-MG) para o Turismo expôs a amarração do apoio da bancada evangélica ao futuro governo. Se até agora não houve, como havia prometido Bolsonaro, negociação de cargos com partidos, evidenciou o compromisso com os grupos temáticos no Congresso.
A grande expectativa de negociar com blocos mais numerosos não exclui, como se esperava, o uso da moeda de troca de postos na Esplanada. A estratégia é uma aposta ainda em busca de confirmação, uma vez que não dá garantia de aplicação das decisões acordadas.