Pioneira precoce das cervejas artesanais no Estado, a Microcervejaria Dado Bier já fez vendas para o Exterior, mas sempre de forma ocasional.
– São diversas sementes, que germinam num lugar, em outro, não. É como um produto importado que aparece em Porto Alegre, depois some. Por isso, tinha decidido parar com a exportação, atendendo apenas a pedidos eventuais – justifica Dado Bier.
Até por isso, quando recebeu uma consulta de um americano sobre uma parceira para desenvolver uma cerveja brasileira especial, não se comoveu muito.
– Minha reação foi "ah, mais um assunto de exportação" – confessa.
Mesmo a distância, o interlocutor percebeu o relativo desinteresse e avisou que estava vindo a Porto Alegre. A reação do empresário, outra vez, foi de certa exasperação. Mas durou só até começar a ver o projeto. Primeiro, começou com uma apresentação sobre a microcervejaria, que, conforme Dado, a própria empresa nunca havia feito. Trouxe um plano estruturado, conta o empresário:
– A certa altura, ele colocou a mão no meu braço e disse: "Você está entendendo o que estou propondo?" Respondi: "Até esse momento, não, agora estou".
Foi aí que nasceu a parceira entre Dado Bier e a Blue Ocean de Ralph Alvarez. O americano, descreve o parceiro local, é um dos que haviam perdido seu negócio de distribuição com a concentração do mercado doméstico de cerveja nos EUA. E não tinha interesse no segmento artesanal, como imaginava o gaúcho, mas em uma cerveja importada com identidade brasileira.
– Ele queria uma companhia independente, com história, criada por um empreendedor, não por um investidor ou um fundo de investimento – detalha.
Foi aí que Dado se comoveu, criou um pequeno núcleo de exportação e começou a elaborar uma cerveja – só uma, diz o defensor da simplificação do consumo de cerveja. Antes, costumava vender ao Exterior os produtos que já tinha, só cumprindo as obrigações legais, como etiquetas acessórias. Tudo isso ocorreu há três anos, em 2015.
Depois da parceria formalizada e do produto desenvolvido, o primeiro contêiner da Brazilian Lager, formulação com que vai atuar nos EUA, já foi despachado para o Colorado, Estado onde atua a Blue Ocean. Estão previstos mais quatro embarques só neste ano. São cerca de 45 mil garrafas em cada um. Há planos robustos para o futuro, mas o empresário mantém a cautela:
– Vai depender muito da aceitação do produto por lá. Falei muito com o Cesário (Mello Franco), da Xingu, que caiu nas graças do mercado americano. Eles trabalham de forma ordenada, estruturada, isso me agrada. Mas tem uma parcela de sorte, do acaso.