O Banco Central (BC) vai sacar a segunda arma na tentativa de conter o nervosismo do dólar. Após a saraivada de swaps cambiais, equivalente à venda da moeda no mercado futuro, aumenta o calibre com o anúncio de que fará, a partir desta segunda-feira, os chamados leilões de linha.
Serão US$ 3 bilhões somente nesta segunda-feira. Não são apenas papéis, como os swaps. É moeda colocada no mercado e, após certo tempo, devolvida ao BC. Neste meio tempo, garante maior liquidez. Ou seja, são mais dólares irrigando o mercado, uma oferta que aliviaria a pressão no câmbio.
A nova ação do BC já era pedida por especialistas, embora os swaps continuem a ser usados. O economista Sidnei Nehme, diretor da NGO Corretora, está neste time. Para ele, os swaps têm pouco efeito por o mercado estar saciado do instrumento, utilizado como proteção para quem tem obrigações em dólar.
Ao mesmo tempo, crê que, a partir de julho, deve se intensificar a saída de recursos estrangeiros em ativos financeiros. Assim, o BC garante a existência de moeda para quem quiser deixar o país, diminuindo os solavancos, uma vez que o câmbio é flutuante e a missão da autoridade monetária não é evitar a valorização do dólar, mas a grande volatilidade (sobe e desce).
No ano, o fluxo cambial do país está no azul em US$ 23,5 bilhões, graças ao saldo entre exportações e importações positivo em US$ 28,4 bilhões, superior à saída líquida de US$ 4,83 bilhões da conta financeira. Ou seja, o problema parece não ser liquidez e isso é estranho, avalia o professor de economia da UFRGS, Marcelo Portugal. Como última alternativa, o país ainda tem o chumbo grosso de suas reservas cambiais, de US$ 380 bilhões. Para Portugal, não é possível descartar o uso desses recursos devido à incerteza relacionada às eleições para a Presidência da República.
— O dólar não está caro. Se corrigirmos pela inflação, na época da eleição de Lula, em 2002, quando também chegou a R$ 4, seria acima de R$ 7 — observa o economista, que prevê mais emoções no câmbio pela frente.
O movimento americano de alta do juro, aliado à frágil situação fiscal do Brasil, economia quase parando e o desempenho modesto de candidatos favoráveis a reformas na corrida ao Planalto são indicativos de que o dólar não deve se render tão fácil à artilharia do BC. No ano, a moeda — que na sexta-feira fechou a R$ 3,78 — avança quase 15% sobre o real.