Se ainda havia dúvida sobre o abalo na relação entre o presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, depois desse conturbado início de ano, cessou após a peculiar caminhada matinal de ontem. À moda de um antecessor de má memória – Fernando Collor de Mello –, Temer adotou o exercício matinal como marketing político.
Há 10 dias, tinha objetivo de conter boatos sobre a saúde presidencial. Ontem, buscou frear especulações sobre estremecimento entre os dois. Desde o debate sobre a eventual suspensão da regra de ouro, que proíbe fazer dívida para pagar despesas correntes, abriu-se um descompasso, que se agravou com o rebaixamento da nota de crédito do Brasil.
Ainda que a maior responsabilidade pelo atraso na aprovação da reforma da Previdência seja de Temer – que se focou em barrar a investigação das denúncias de que foi alvo a partir da delação da JBS–, Meirelles é o grande responsável pelo ajuste. Tem perdido rounds importantes para a turma do fisiologismo. E chegou a acenar com a possibilidade de contribuir para adiar o corte da nota graças a seu contato direto com as agências.
Quando o ministro atribuiu responsabilidade pela insuficiência das medidas de ajuste ao Congresso, foi chamado para uma conversa no gabinete presidencial. Diante do silêncio sobre o que foi discutido, acentuou-se a especulação que ontem ambos tentaram atenuar.
A frase de mais impacto pronunciada por Temer foi "ele aguenta bem o tranco da economia" – como se houvesse dúvida. Especialmente depois de maio de 2017, Meirelles se converteu em uma espécie de fiador de um presidente fragilizado. Ao admitir a candidatura à sucessão, corre o risco de inverter o jogo e comprometer os ainda parcos resultado obtidos até agora.