Enquanto o presidente Michel Temer era alvo do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e dava explicações sobre uma carona no avião de Joesley Batista, seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, costurava em Paris a entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), conhecida como uma espécie de clube dos países ricos.
De Paris, Meirelles resolveu abrir uma conta no Twitter. Para estrear, escreveu "boa tarde, meu nome é Henrique Meirelles e este é o meu perfil no Twitter. Pretendo usar este espaço para debater os rumos do Brasil". Em cinco minutos, tinha 150 seguidores. No final da tarde, quase 8 mil. Além de fãs, ganhou críticas por dar a impressão de estar se apresentando como sucessor de Temer.
A reação está em linha com uma tese que ganha força no mercado, a do "parlamentarismo branco". Nessa hipótese, Temer manteria o cargo, mas perderia o poder de fato. Desde que a delação da JBS abalou a já baixa credibilidade do presidente, o mercado sonha com uma "solução Meirelles". Hoje, o ministro parece ter contribuído para embalar esse sonho.
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No mesmo dia em que Meirelles tuitou que "a candidatura do Brasil como país-membro da #OCDE está sendo muito bem recebida", a entidade divulgou relatório alertando sobre "riscos significativos" derivados da incerteza política no Brasil. No estudo, que inclui outros países, a OCDE reviu as projeções para o PIB nacional, de zero para crescimento modesto de 0,7% neste ano, e de 1,6% em 2018. "O Brasil está, enfim, emergindo de uma recessão severa e prolongada", observa a entidade.
A decisão sobre o pedido de adesão encaminhado pelo Brasil na semana passada, depois de anos de hesitação, será analisada pela OCDE em julho. Em tese, a vantagem de fazer parte do clube é ter uma supervisão para aderir a melhores práticas de gestão – nunca tão necessárias. Mas a condição de sócio do "clube dos ricos" não abre portas a investimentos ou dá acesso a juros menores automaticamente.
Na análise do Brasil, a entidade recomenda "medidas mais efetivas para prevenir a corrupção", em especial nas compras governamentais, e melhorar na gestão pública. Valeria mesmo aderir ao grupo se acatar essas recomendações fosse compulsório.