Depois de justificar o tarifaço sobre combustíveis com a necessidade de limitar o déficit primário da União a R$ 139 bilhões, atual meta do Planalto, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, revê o discurso. Até esta segunda-feira (31), mantinha o pé na porta da revisão, que representaria desgaste para sua posição de fiador da política econômica de um governo cada vez mais acuado. Mas, em uma frase, acabou atiçando o fogo de sua própria fervura:
– Em relação à questão da meta fiscal, estamos analisando o assunto. No momento, a meta anunciada será seguida.
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Conforme a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o aumento médio da gasolina foi de 8,2%, o maior desde 2004, quando o órgão começou a pesquisar preços. Não precisa muita conta para estimar o efeito de uma alta desse tamanho.
Se em qualquer circunstância o impacto seria grande, fica maior quando o país ainda sofre as dores da transição entre uma recessão profunda e duradoura e alguns sinais de reação. E se, depois de "analisar", houver conclusão de que não será possível manter a meta de restringir o rombo, o que vai acontecer? Haverá devolução dos valores pagos a mais por gasolina, diesel e etanol – ao menos nos primeiros dias – para evitar a mudança?
Até agora, Meirelles estava sob fervura com objetivo de dissolver obstáculos entre a demanda por "bondades" do presidente Michel Temer para se manter no cargo. O ministro definiu a meta e assentou sobre esse número sua credibilidade. Era o que mais resistia a qualquer hipótese de alteração, exatamente por esse motivo. No capítulo mais recente, ao atiçar o fogo, corre o risco de ver sua imagem dissolvida.