A cena brasileira realmente desafia a lógica. O país volta a discutir privatização com mais pragmatismo, depois de anos de processos de desesetatização patrocinados por recursos estatais, mais especificamente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Agora que economistas e empresários tentam explorar saídas para a BNDESdependência, o presidente da instituição, Paulo Rabello de Castro, propõe outra forma de subordinação de controle privado com recursos públicos: a criação de um fundo composto por parte das reservas que o Brasil mantém no Banco Central (BC).
Integrantes do governo Temer se interessam há tempo pelo destino dos US$ 380 bilhões em títulos do Tesouro dos Estados Unidos e outras formas seguras de ter um colchão para responder a crises cambiais. É fato que, em país com tanta necessidade, esse volume de recursos provoca cobiça.
Mas se o total mantido em reservas pode e deve ser debatido, assim como o custo alto de manutenção desse colchão, dificilmente haverá consenso de que a melhor forma de aplicação alternativa seja financiar privatização com recursos públicos. Criticados da extrema direita à extrema esquerda, o patrimonialismo e o clientelismo que caracterizam o capitalismo à brasileira só se acentuariam.
Em um país em que faltam recursos para emitir passaportes, obras em estradas, programas de iniciação científica e até manutenção de universidades, é uma estranha prioridade. Solta, a frase de Rabello não soa mal: “Antecipar uma pequena parcela de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões não afeta a segurança financeira do país”. É possível. Mas se os brasileiros forem perguntados sobre o destino desses recursos, é muito provável que tenham outras sugestões sobre o que fazer.