Até o IBGE se assustou com os resultados do recorte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) focado em rendimento divulgado nesta quarta-feira (29). Nas palavras da gerente da pesquisa, Maria Lúcia Vieira, "o Brasil já é conhecido como um dos países com as piores desigualdades de rendimento do mundo, e a pesquisa enfatiza ainda mais o quão desigual o país é". Alguma desigualdade existe em toda economia de mercado. No nível do Brasil, passa a ser disfuncional. Os principais dados:
1. A fatia de 10% da população com menor rendimento ficam com 0,8% do total disponível.
2. A parte dos 10% com maior rendimento absorvem 43,4% do total.
3. Metade dos trabalhadores recebe 15% menos que o salário mínimo
4. O 1% que ganha mais de R$ 27 mil ganha 36,3 vezes mais do que a metade com menor renda (média de R$ 747).
Na sequência de más notícias trazidas pela fotografia da renda no país, há algum conforto para a Região Sul: é onde está a maior média de renda da metade menos remunerada dos trabalhadores, R$ 949. É quase o dobro das médias do Nordeste (R$ 485) e do Norte (R$ 560).
A consequência mais clara do abismo entre o teto e o piso da renda é a situação de insegurança e o clima de conflito. Diferenças educacionais e de mérito não dão conta de explicar ou justificar essa brecha. Do tamanho que está, dificilmente será reduzida por políticas públicas, principalmente na atual situação das contas. Mesmo durante o auge dessa estratégia, como já demonstrou estudo da equipe do francês Thomas Piketty, a situação mudou pouco. Se não for em nome da solidariedade, que seja a título de eficiência: um país com essa fissura não alcança desenvolvimento sustentável.