Não é exato incluir as duas rodadas de licitações para exploração de áreas no pré-sal na “agenda positiva” pós-votação – e congelamento – da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. A etapa de hoje estava prevista há meses. Se houve sincronismo de datas, ocorreu ao marcar a sessão de apreciação da denúncia, não o contrário.
Afinal, bilhões estão em jogo – de reais e de dólares. Esta é a primeira vez que petroleiras estrangeiras terão a chance de fazer ofertas por áreas sabidamente dentro da nova província petrolífera do Brasil. Já existem parcerias com participação de companhias estrangeiras, mas haviam sido montadas antes do mapeamento das jazidas. E há outra diferença: depois de um longo período de descrédito, o pré-sal deixou de ser promessa. Em julho, a produção nessas áreas superou pela primeira vez o total de todas as anteriores.
Na prática, significa que mais da metade do petróleo extraído no Brasil em 2017 vem do pré-sal. Nesta semana, às vésperas do leilão, o presidente da Petrobras, Pedro Parente, classificou de surpreendente a produtividade dessas áreas. Disse que um único poço tem produção diária de 40 mil barris, volume só atingido um campo inteiro – formado por vários poços – no pós-sal.
Essa primeira oportunidade se dá no regime de partilha – o vencedor não se torna “dono” do óleo ou do gás encontrados. Retira, desconta seus custos e lucros e entrega o resto à União. Adotado com discurso nacionalista no governo Lula, esse sistema eleva ganhos no longo prazo mas reduz no curto – no modelo tradicional, de concessão, o governo recolhe mais ao leiloar. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quer abandonar a partilha. No curto prazo, para um país desequilibrado, faz sentido. Fará no longo?