Com o corte de 0,75 ponto percentual, o Banco Central cumpre uma de suas principais promessas: voltar a coordenar as expectativas. Comunicados mais claros e atuação mais consistente ajudaram a construir a previsibilidade que o mercado deseja e valoriza. Agora, só falta o corte de 0,5 ponto previsto na reunião de dezembro para a taxa básica brasileira atingir seu mínimo histórico, de 7% ao ano, desta vez sem polêmica.
O piso anterior, de 7,25%, vigorou entre outubro de 2012 e abril de 2013 – cinco escassos meses. Era o epílogo do controverso movimento de corte de juro que começara em 31 de agosto de 2011, um dos pilares do que o governo Dilma chamava de “nova matriz econômica”. Os cortes iniciados em período de inflação ainda elevada, mesmo para padrões brasileiros deixaram o mercado perplexo e os investidores indignados.
Se a inflação, que está no manual do BC para calibrar juro, dá espaço para testar taxas baixas por período mais longo, há outro elemento ausente, fora do manual: o equilíbrio fiscal.
O próprio presidente do BC, Ilan Goldfajn, já sugeriu que, desta vez, o piso do juro básico pode ser mais duradouro, porque com ociosidade na estrutura de produção (baixo uso de capacidade instalada nas empresas, mão de obra disponível por causa do desemprego), é possível crescer mais rápido sem pressão inflacionária. Em tese, é verdade.
Basta ver o impacto previsto nas contas de luz com o reajuste de 42% na bandeira vermelha, acionada pela operação das térmicas, necessária diante do baixo nível de reservatórios de hidrelétricas. para pensar duas vezes. No Focus, segue a projeção de 7% para o final de 2018. É a média, não consenso.
O Brasil se dirige para um ano de eleição tensa e resultado incerto com déficit projetado em R$ 159 bilhões. Ou seja, a política fiscal não ajuda. Pesquisas de intenção de voto – como em 2014 – e a política econômica dos EUA podem afetar o câmbio, com risco de contágio em preços. É boa oportunidade de experimentar um período inédito de juro civilizado no Brasil. Mas convém manter ovos em várias cestas.