Não é só com o descumprimento da meta de déficit limitado a R$ 139 bilhões que os economistas começam a se preocupar. A redução de juro pode exceder as expectativas médias da taxa Selic, confirmadas nesta segunda-feira (3) em taxa de 8,5% no final do ano. Isso ajuda a reduzir o custo da rolagem da dívida, mas um indicador muito sensível ao risco pode piorar mesmo assim.
A relação dívida/PIB pode chegar muito perto de 80% no próximo ano, conforme avaliação do Itaú Unibanco documentada em relatório da instituição lançado hoje. Com o título Revisão de Cenário, o banco adverte que "a dúvida sobre a aprovação das reformas aumenta a incerteza sobre a perspectiva de estabilização da dívida pública".
Como tem efeito na confiança e nos preços de ativos, essa perspectiva "enfraquece as perspectivas de retomada do crescimento econômico e, tudo mais constante, dificulta a queda permanente dos juros (que decorreria da perspectiva de maior equilíbrio fiscal), pressionando o crescimento da dívida pública".
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Um dos problemas é que a arrecadação do governo federal ainda não deu sinal de reação, como ocorreu com alguns indicadores, mesmo que de forma tênue. Isso faz com que aumente o risco de adoção de medidas no lado da receita – como o aumento de tributos – para impedir que o buraco nas finanças públicas fique maior do que o previsto.
Outro é a percepção de que o avanço do PIB neste ano, depois do solavanco provocado pela delação da JBS e a denúncia por corrupção contra o presidente Michel Temer, não será vigoroso. Ao contrário, pode ser até pouco visível – a média das estimativas está em 0,39%, com risco de revisão para baixo. Com um denominador menor, o resultado da divisão será mais alto.
Uma dívida pública na faixa de 80% do PIB ainda não é desastrosa como os endividamentos de Grécia, Portugal e Irlanda, para ficar nos casos mais graves da Europa – todas passaram de 100%. Mas o Brasil é uma economia mais frágil e com menos redes de proteção do que as europeias, mesmo periféricas. E em 2018, não haverá redução tão acentuada no juro.