Pior resultado na história para o mês de julho, o rombo de R$ 20,15 bilhões nas contas do governo central – Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – não surpreende no país que acabou de revisar seus compromissos com o ajuste fiscal. Nem por isso esse tamanho de déficit primário (saldo negativo de receitas menos despesas, sem contar o pagamento de juros da dívida pública) inquieta menos.
Consciente do efeito negativo desse número, a equipe econômica avisou que saber desse resultado ajudou a redefinir a meta de déficit de R$ 139 bilhões para R$ 159 bilhões no ano. O valor mensal ficou R$ 4,5 bilhões além do esperado, principalmente por frustração de receitas.
No país ainda dominado pela incerteza sobre a efetividade do ajuste fiscal, consolida-se a expectativa de taxa básica de juro menor do que a mínima histórica. Embora a média das previsões situe o juro em 7,5% no final do ano, o grupo das instituições que mais acertam as projeções já desceu para o patamar de 7%.
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É bom lembrar que a convivência relativamente pacífica da economia com o governo Dilma começou a se esfarelar em 31 de agosto de 2011, quando o Banco Central (BC) decidiu um surpreendente corte no juro básico. Era o início de uma trajetória que o mercado considerou forçada da taxa Selic, por conta dos sinais de que a inflação não estava sob controle. Por teimosia, o BC levou a referência até o piso histórico de 7,25% – e até azedar de vez a relação entre agentes econômicos e administração pública.
Agora, quando o país debate um novo preço mínimo do dinheiro até dezembro, outro paradoxo não provoca tanta inquietação. É menos óbvio, mas não menos incendiário. A situação fiscal é tão determinante para o custo dos financiamentos quanto a inflação. Não está formalmente relacionada como parâmetro do BC, mas sempre foi citada por economistas fiscalmente responsáveis como principal coadjuvante dos preços. Novos cortes de juro certamente aliviarão a pressão sobre uma economia sufocada. Se não forem sustentáveis, repetirão a história.