Se o impeachment de Dilma Rousseff teve o efeito secundário de desmoralizar a Câmara dos Deputados, pelo espetáculo circense dos votos "em nome de Deus e da família, contra a corrupção", a absolvição da chapa composta com Michel Temer incluiu a mais alta corte da Justiça Eleitoral na crise das instituições. É inevitável concluir que as duas falências estão relacionadas. Como a recessão do Brasil tem ingrediente institucional, o risco de agravamento do contágio subiu. Essa percepção existe dentro e fora do país.
O diagnóstico de que o presidente transformará o Planalto em um bunker, do qual pretende comandar sua luta por sobrevivência, levanta a interrogação sobre o custo dessa operação. Ainda que não haja novas revelações – considerando que a disposição de não delatar de Rodrigo da Rocha Loures seja duradoura –, Temer tem mais batalhas pela frente, para as quais precisa de aliados.
Leia mais
"Temer pode figurar como a solução menos ruim", diz Maílson da Nóbrega
Começa a se consolidar ideia de que Previdência subiu no telhado
"Volta ao fundo do poço é muito improvável", afirma economista
A mais ameaçadora é a iminente denúncia do presidente, pela Procuradoria-Geral da República, no inquérito em que é acusado de corrupção, obstrução da Justiça e organização criminosa. O clima é belicoso entre Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF), que vai decidir se Temer pode virar réu. A essa altura, até crianças sabem como se conquista apoio no Brasil. E sabem que custa caro.
No governo que precisa cortar despesas para garantir que o buraco nas finanças públicas federais não passe de R$ 139 bilhões, fala-se em "pacote de bondades". No país em que o formato setorial de incentivos econômicos contribuiu para gerar esse rombo e alimentar investigações policiais, voltou-se a cogitar "medidas de estímulo a setores específicos da economia".
No comando dos bancos públicos, em que uma executiva independente foi substituída por um economista respeitado, mas identificado como amigo de Temer, o BNDES foi instado a adotar "políticas de crédito para alavancar pequenas e médias empresas".
A tese é de que, com essas medidas, seja possível acelerar a reação da economia, gerar empregos e estancar a evaporação da popularidade presidencial. Quando ainda não estava manchado por suspeitas de corrupção, o governo Dilma tentou o mesmo caminho, reduzindo juro de forma artificial e distribuindo dinheiro barato para investimentos. Os brasileiros pagaram um preço alto. Agora, pode haver sobrepreço.