Atribui-se a Antonio Palocci a iniciativa de escrever e divulgar a Carta ao Povo Brasileiro. Em 2002, a probabilidade de uma eleição de Luiz Inácio Lula da Silva levou o dólar ao limiar de R$ 4 – há 15 anos –, fez a inflação disparar e a bolsa murchar. Reeleito prefeito de Ribeirão Preto com agenda pragmática, Palloci percebeu o custo do "risco Lula" e propôs um texto em que o candidato de oposição se comprometia com as mesmas políticas do governo que sucederia. O que deveria ser um rompimento se tornou uma continuidade, e o autor da ideia virou ministro da Fazenda, surpreendendo até o PT, que sempre pensou que o cargo fosse direto para Guido Mantega.
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A principal atividade de um ministro da Fazenda no Brasil é coordenar a macroeconomia – conjunto de variáveis que afeta agentes indistintamente, como renda, preços, juro, poupança, investimentos, balança de pagamentos e emprego. Na sentença de primeira instância que o condena há 12 anos, dois meses e 20 dias, Palocci é associado a "provas de macrocorrupção, praticada de forma serial pelo condenado, com graves consequências, não só enriquecimento ilícito, mas também afetando a integridade de processos eleitorais no Brasil e no Exterior por sucessivos anos". O diagnóstico está na antepenúltima página do documento de 304 páginas divulgado nesta segunda-feira (26).
A essa altura, é bastante conhecido o papel de Palocci como articulador, não de políticas econômicas, mas de esquemas arrecadatórios. Ainda assim, o texto impressiona. Além de coordenar toda a política econômica do primeiro mandato de Lula, o ex-ministro foi por anos, inclusive na primeira campanha de Dilma Rousseff, um nome de referência para o empresariado. E agora, pelos sinais que surgem no Ministério Público, no Banco Central e na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Palocci ainda terá muito a revelar.