Volatilidade ou inconclusividade? Na manhã de sexta-feira, a bolsa subia mais de 2,5% e o dólar mais de 3%, para R$ 3,29, em movimento inverso ao dia anterior. Muitos analistas apontam como causa o fato de a gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer não ter sido "conclusiva" para provar o aval ao pagamento ao ex-deputado Eduardo Cunha em troca de seu silêncio. Essa seria a tese da "inconclusividade", mais uma palavra que as crises política e econômica do Brasil acrescentam ao nosso vocabulário.
Outros lembram que períodos de crise nos mercados são assim mesmo: momentos de forte baixa são seguidos por outros de intensa alta, por conta da incerteza e dos investidores que enxergam oportunidades quando as ações ficam baratas. O mesmo ocorre com a cotação do dólar, que, neste caso, conta com uma ajuda de US$ 2 bilhões em contratos ofertados pelo Banco Central (BC), na tentativa de conter uma das piores consequências da turbulência no mercado. Fortes variações abrem possibilidade de ganhos para quem faz transações com base na moeda norte-americana. Seria a hipótese da "volatilidade".
Mas quem está no meio das informações que circulam no mercado tem explicações adicionais. Wagner Salaverry, da Quantitas, explica que os operadores tentam antecipar o efeito no mercado das revelações previstas para hoje sobre os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff – especialmente o primeiro.
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O que se especula, conforme Salaverry, é que a delação de Joesley, dono da JBS e muito próximo a Lula, estabeleceria o "caminho do dinheiro" e inviabilizaria o discurso do ex-presidente de que não há provas contra ele.
– Caso isso se confirme, tiraria o "risco Lula" da eleição de 2018. Hoje, ninguém acredita no "Lulinha paz e amor", e o mercado vê Lula como uma ameaça. E ainda há, sim, um elemento de volatilidade. Por mais que os políticos atrapalhem o país, a economia recomeçou a andar, e se a bolsa já era interessante a 68 mil pontos, a 63 mil é ainda mais – avalia.