Imagine a cena: investidores estrangeiros são convidados para conhecer melhor as oportunidades de um país envolvido há quase três anos em um atoleiro de suspeitas. Poucas horas depois da abertura do encontro, feita pelo presidente do nação, ficam sabendo que um magistrado da corte suprema autorizou depoimento do mandatário em inquérito da Polícia Federal que apura seu envolvimento em pagamento de propina. Quem ficaria para o segundo dia do evento?
Boa parte dos investidores tem como bíblia o jornal britânico Financial Times (FT), que no dia anterior publicara sobre Michel Temer a frase "sua manutenção na Presidência pode ser a causa da crise, em vez de solução". As reformas foram usadas como senha a candidatos a investir, mas o título do FT sobre Temer era "Mãos limpas são necessárias para reformar o Brasil".
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Promovido pela Agência de Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), um órgão do governo, o fórum teve agenda calculada: começaria na véspera de um grande corte na taxa básica de juro, terminaria pouco antes do anúncio oficial de que o Brasil havia saído da crise, com a primeira variação positiva do PIB depois de dois anos de recessão escura e funda. Era um bom plano.
Não contava com o evento do dia 17 de maio – a delação da JBS –, que mergulhou o Brasil no momento mais agudo de sua dupla crise, política e econômica. É bom lembrar que o investimento externo – como ressalta o Financial Times em seu editorial – continua desembarcando no país. Os ativos estão baratos, o câmbio está favorável. Só falta o que o jornal britânico recomenda: "A limpeza dos políticos corruptos, de todo o espectro ideológico, é necessária".