Os atos de 1º de Maio nos últimos 10 anos são um espelho da história recente do país. Uma década atrás, o crescimento vigoroso do Brasil, a queda do desemprego e o aumento da renda tornavam as manifestações atos dóceis ao Planalto.
Como a CUT tem ligação umbilical com o PT, essa trajetória pode ser melhor percebida pelas guinadas da Força Sindical, comandada pelo deputado federal Paulinho da Força (SD-SP). Igual nesse tempo todo, apenas os shows de artistas famosos que atraem as multidões, mais preocupadas em aproveitar a festa do que em defender seus direitos.
Em 2007, uma pista que ajuda a explicar tudo o que veio à tona nos últimos dois anos. À época, não era nenhum pleito dos trabalhadores que ganhava destaque no noticiário. Mas sim a chiadeira de Paulinho da Força porque Petrobras e Caixa tinham jorrado muito menos dinheiro na celebração da sua central em comparação com o patrocínio para a CUT, em São Paulo.
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Os anos seguintes permaneceram com as mobilizações domesticadas, à base de dinheiro farto das estatais e economia forte. As reivindicações eram esparsas, genéricas. Em 2008, o mote era a redução da jornada – agora, a proposta de reforma trabalhista prevê até possibilidade de um maior número de horas. Em 2010, algo hoje impensável: no auge da popularidade do governo Lula, a então ministra Dilma Rousseff, que viria a ser eleita presidente, fez discurso em tom de comício no evento da Força.
Uma eleição depois, com a central na oposição, os convidados eram outros. Até o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, considerado decisivo para o processo de impeachment e hoje preso, deu o ar da graça.
De forma secundária, inflação e juro também foram pauta do Dia do Trabalho. Hoje, depois de bons anos separadas, as principais centrais voltam a atuar afinadas. Após a greve geral de sexta-feira, a união agora é contra as reformas trabalhista e da Previdência. E a Força, que há pouco apoiava o governo Temer, ataca o Planalto.
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O que foi assunto no Dia do Trabalho:
2007
A economia bombava, e reivindicações ficavam em segundo plano. Sindicatos em lua de mel com o Planalto. O presidente da Força reclamava que Petrobras e Caixa deram apenas R$ 250 mil para a central, enquanto a CUT recebeu R$ 600 mil.
2008
Antes de estourar a crise global, o país apresentava crescimento robusto, e o desemprego estava em queda. Com isso, a principal reivindicação das centrais era a redução da jornada de 44 para 40 horas semanais.
2009
O país se recuperava rapidamente da crise financeira criada pela bolha imobiliária nos Estados Unidos. O governo federal ainda estava imune a críticas. Genericamente, as reivindicações clamavam pelo aumento do emprego no país.
2010
PIB subiria 7,5% no ano. Surfando na popularidade de Lula, a então ministra Dilma Rousseff, depois eleita presidente, sobe no palanque da Força. Clima de comício. Petrobras, Caixa, BNDES e Eletrobras patrocinam os eventos das centrais.
2011
Era o Brasil prestes a cumprir a promessa de ser o país do futuro. O 1º de Maio teve mais conquistas a celebrar do que reivindicações. Pleno emprego e elevados reajustes do mínimo aumentavam o poder de compra da população.
2012
A economia desacelerava, mas o Planalto seguia imune a ataques da Força, que depois viria a subir o tom, ao contrário da CUT, historicamente ligada ao PT. A principal reivindicação era o corte do juro pelo Banco Central.
2013
A inflação começa a preocupar e aparece nos discursos do 1º de Maio. A Força defende reajustes trimestrais ligados à variação dos preços. O senador tucano Aécio Neves, que viria a concorrer a presidente no ano seguinte, sobe no palanque da Força.
2014
A temperatura política aumenta. Os casos de corrupção na Petrobras aparecem. Além de Aécio, Eduardo Campos, pré-candidato do PSB a Presidência, depois vítima de acidente aéreo durante a campanha, discursa no palanque da Força, em São Paulo.
2015
A palavra impeachment já é pronunciada. Projeto de terceirização é alvo, mas o embate entre governo e oposição é cada vez mais explosivo. Até o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, comparece ao ato da Força.
2016
Às vésperas do impeachment, Dilma anuncia, no evento da CUT, reajuste do Bolsa Família e correção da tabela do IR. Diz que vai lutar pelo mandato e que o processo em curso "é golpe". Nos bastidores, o governo Temer é assunto.
*Interino