Quando uma reforma começa de forma errada, corrigir seu curso durante o caminho à aprovação fica ainda mais complicado. Nenhum brasileiro ignora que o objetivo da reforma da Previdência é mesmo retardar a aposentadoria, diante dos sinais de que a conta não fecha em futuro próximo.
Aí começam os problemas. Na origem, um governo que deveria ser de transição, eleito nas mesmas circunstâncias que espalham suspeitas sobre praticamente todos os detentores de mandato em Brasília, acreditou ter legitimidade para cumprir uma agenda adiada há décadas no Brasil. Mais ainda, não só quis eliminar o atraso da inação passada como resolver o problema para as décadas à frente.
Seguiu-se a tradicional separação dos públicos sensíveis – militares, políticos, Judiciário – e os menos, em tese. Se é preciso compartilhar sacrifícios e exigir mais tempo de trabalho e maior contribuição, se todos participarem a parcela de cada grupo será mais leve, certo? Não para os estrategistas do Planalto. Houve uma escolha entre os que poderiam arcar com o custo extra e os que não o tolerariam.
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Mesmo abrindo mão de quase de R$ 200 bilhões na redução de gastos em 10 anos, o governo federal enfrenta a realidade: mesmo com concessões, a reforma não vai passar. Em momento de forte desgaste, cercados de pressão ainda maior, parlamentares fizeram sua escolha: entre a sobrevivência e a Previdência, ficam com a primeira.
As idas e vindas fizeram até o Fundo Monetário Internacional (FMI) monitorar o caso. Por que, se não devemos nada a eles? Uma das missões da instituição é projetar o crescimento mundial. O previsto para o Brasil pelo Fundo de 0,2% neste ano e de 1,7% em 2018, leva em conta a aprovação da reforma. Se isso não ocorrer, a estimativa muda e leva junto o dado para todo o planeta.
O Planalto assegura que é questão de semanas. Talvez em meados de maio seja possível alcançar o número de votos necessário. Será? Para ter chance de aprovação, a reforma precisa ser clara, atingir a todos proporcionalmente e considerar o momento da economia. Dado o atraso, em vez de fazer remendos que deixam a reforma cada vez mais caótica, talvez limpar a área e voltar à prancheta seja o mais indicado.