Se muitos gaúchos ficaram satisfeitos em ver que o Salgado Filho passará a ser operado pela alemã Fraport, dificilmente algum mais do que Heitor José Müller, presidente da Fiergs. De origem alemã, Müller ajudou a trazer a Porto Alegre, em novembro deste ano, o encontro anual de negócios Brasil-Alemanha, que ocorre um ano aqui, outro lá. Pela primeira vez, a Fiergs faz parceria formal com o governo do Estado em um programa de atração de investimentos e promoção comercial.
Por que, desta vez, Fiergs e governo do Estado estão atuando em parceria?Tivemos parceria com governos anteriores. Mas agora há mais abertura. O governador (José Ivo Sartori) está mais interessado, indo junto, não para fins políticos. Amanhã (nesta quinta-feira), teremos evento, em São Paulo, da Câmara Brasil-Alemanha para falar sobre o Rio Grande do Sul.
Colaboramos na apresentação de ideias e projetos. Precisamos fazer nossas indústrias crescerem e que mais empresas venham para o Estado. Se o governo quiser arrecadar mais, não será com aumento de impostos que tornará isso possível. Com alta nos tributos, haverá queda na arrecadação. Isso é histórico. É técnico. Não é filosófico. Temos, sim, de aumentar a produção. Aumentar a produção significa o quê? Plantar mais. Mas não temos mais muita terra disponível. Então, precisamos de mais indústrias, como tínhamos no passado.
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No InvestRS, qual o papel do governo do Estado e qual a função da Fiergs?
O maior papel da Fiergs é a divulgação, fazer contatos, porque temos acesso a entidades que não são necessariamente governamentais. São organizações privadas. Nosso acesso é privilegiado. Em novembro, teremos o Encontro Econômico Brasil-Alemanha em Porto Alegre, o que é excepcional, resultado de um trabalho de anos.
A parceria com o governo do Estado é por meio do diálogo, para buscar ideias novas, e na elaboração de projetos. Temos pessoal especializado trabalhando. A equipe é muito boa tanto na área econômica, quanto na parte estratégica. Muitos empresários nos procuram.
A Fraport venceu o leilão para concessão do Salgado Filho. Já é resultado da tentativa de "vender" mais o Estado?
O Rio Grande do Sul foi mais exposto lá fora. Tivemos idas para o Exterior com governadores anteriores, mas por outras razões. Agora, o governo está interessado efetivamente no desenvolvimento econômico, que gera emprego, renda e impostos para o Estado, e não confabulações políticas.
A Fraport participou de leilões de outros aeroportos. Não venceu as disputas porque foram feitos leilões abertos. Agora, não. Só empresas que administram aeroportos com "x" milhões de passageiros puderam participar. Então, grupos aventureiros ficaram de fora da disputa pelo Salgado Filho. A Fraport tem aeroportos em várias partes do mundo. Administra o terminal de Frankfurt, com cerca de 60 milhões de passageiros por ano.
A Fraport será convidada para o Encontro Econômico Brasil-Alemanha?
Sim. Queremos que a empresa participe. Vamos visitá-la em abril. Passaremos no aeroporto de Frankfurt e aproveitaremos para tomar café da manhã com eles (risos).
O que se pode esperar em relação a novos investimentos externos?
A Fraport, antes de vir para cá, analisou a situação do Estado. Há dois anos, participei de um evento em Washington, nos Estados Unidos. Quatro grandes empresas americanas que investem no Brasil há mais de cem anos foram unânimes ao afirmarem que sempre se deram bem no país. A economia do mundo inteiro sobe e desce.
O Brasil sempre saiu fortalecido das crises. Se analisarmos isso de uma forma bem pragmática, sem nenhum outro viés, veremos que daqui a um ou dois anos o país estará novamente em uma crescente. Hoje, o Brasil está barato. Tem muita gente querendo vender empresas, o que pode não ocorrer daqui a dois anos. Só existe um laboratório da SAP, outra companhia alemã, no Hemisfério Sul. Fica em São Leopoldo. Isso significa alguma coisa. Todos passam a olhar para cá com outros olhos.