Nas entrelinhas das declarações do governo, de empresários convidados e até de sindicalistas, é possível entender que a minirreforma anunciada na quinta-feira é o primeiro passo para modernizar as relações de trabalho congeladas no tempo desde os anos 1940. Por isso, a gradualidade das mudanças pode ser não um problema, como apontam analistas, mas uma vantagem. Diante dos tropeços e das especulações que antecederam a definição, foi um alívio.
Ao não permitir que o negociado prevaleça sobre o legislado para todos os aspectos neste momento de alto desemprego, portanto baixo poder de barganha dos trabalhadores, as propostas evitam excesso de solavancos no caminho – de resto, fontes de turbulência no mercado de trabalho não faltam.
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Caso sejam aprovadas no Congresso, as mudanças permitem uma transição entre o ambiente excessivamente regulado de hoje e um futuro com mais autonomia, maturidade e liberdade de contratação, sem os traumas de uma ruptura brusca, que seriam somados à inquietação a respeito da reforma previdenciária.
Ao anunciar as medidas, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, e o presidente Michel Temer projetaram, talvez com excesso de otimismo, potencial de redução do contencioso trabalhista. Embora o reconhecimento do poder dos acordos seja um avanço, uma mudança cultural que permita amenizar as disputas judiciais provavelmente leve mais tempo para se consolidar.
Se o Brasil, de fato, demorou muito para começar a rever dispositivos que hoje atrapalham tanto empregadores quanto empregados, o momento em que cerca de um quinto da força de trabalho está sem emprego ou condições para disputar uma vaga recomenda mudanças graduais.