Com a expectativa de aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) do teto dos gastos federais – a votação avançava até o horário de fechamento da coluna, às 20h30min –, é conveniente começar a ensaiar seu impacto efetivo. A coluna contribui com seu grão com a simulação acima, feita com base nos gastos discricionários – sem vinculações legais – nas despesas de cada ano e como deveriam ter sido caso a regra do ajuste já estivesse em vigor. Serve para mero exercício, mas permite algumas conclusões interessantes: o efeito de um teto, nesse período, seria mais suave do que o contingenciamento recorde feito em 2015, superior a R$ 50 bilhões, que deixou esse tipo de despesas abaixo do ponto de corte, caso a medida estivesse em vigor.
As despesas sem vinculações serão as mais afetadas pela aplicação do teto a partir de 2017, caso a PEC cumpra seu roteiro no Legislativo, exatamente por não terem essa âncora constitucional. Como o governo federal quer garantir a manutenção de investimentos em saúde e educação – sem esse compromisso, seria preciso indagar para que, afinal, serve o poder público –, vai faltar espaço para as outras rubricas.
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No exercício, fica claro que as despesas vêm subindo muito acima da inflação do ano anterior – medida pelo IPCA, como propõe a PEC. Mas o tamanho do desbaste não autoriza a prospectar cenários de sangria e inviabilização da prestação de serviços. Os técnicos do governo federal costumam explicar que a decisão de propor o teto por 20 anos é uma tentativa de diluir o ajuste no tempo.
Se tivesse de ser feito da noite para o dia, o aperto nos gastos provocaria forte impacto, tanto social quanto na própria perspectiva de retomada da economia. A escolha do governo, de diluir os cortes ao longo de uma ou duas décadas, ainda mais em país com o histórico de insegurança jurídica, só terá credibilidade com a amarra proposta pelo governo, com a força de emenda constitucional.
Nada impede que seja modificada outra vez, caso mudem as condições políticas e econômicas, mas é o que dá consistência à necessidade de mostrar a investidores, nacionais e internacionais, que o Brasil caminha para uma situação de equilíbrio em suas contas, sem risco de chegar à beira do calote como ocorreu até com países desenvolvidos depois da crise de 2008.