A confirmação da compra das operações de varejo do Citi pelo Itaú Unibanco, no sábado, mesmo dia em que o Bradesco fez a integração final do HSBC, adquirido um ano antes, acentua um diagnóstico de certo tempo no Brasil: bancos estrangeiros tiveram dificuldades de tropicalizar seus negócios. As regras adicionais em relação às internacionais, suas frequentes mudanças e a flutuação do juro básico são elementos dessa dificuldade de atuação no mercado local.
Mas parte da debandada também decorre dos problemas originais de algumas dessas instituições. O terremoto financeiro de 2008 ainda não parou de provocar abalos, como se vê no caso do Deutsche Bank. O Fundo Monetário Internacional observou em relatório, no início deste ano, que após a quebradeira em série e o socorro público a grandes casas bancárias, governos de Estados Unidos e Europa apertaram as exigências de capital e a regulação. O desembarque de alguns mercados foi uma reação à necessidade de reforço de caixa e do foco em arrumar o essencial.
Leia mais
Itaú confirma compra do Citi: um novo round na briga de gigantes
Santander tem US$ 11 bi para infraestrutura
Depois dos resultados das urnas, hora de abrir o saco de maldades
No Brasil, os bancos enfrentam um momento também delicado, sem o risco sistêmico embutido nas traquinagens financeiras do início dos anos 2000. Por aqui, o problema é mais clássico: os dois anos de recessão penduraram contas, especialmente de empresas, que não se sabe se serão pagas. Devedores em recuperação judicial exigiram que as instituições fizessem pesadas provisões (reservas de recursos) para prevenir calotes definitivos.
Os bancos brasileiros, então, estão em crise? Os grandes vão muito bem, obrigado. Quem está pagando a conta são seus clientes. Com o juro básico parado há 13 meses, as taxas de mercado sobem sem parar há quase dois anos. A cobertura da inadimplência passou para a conta de quem quer empréstimos. Sim, a regra protege o sistema, que sem isso desmoronaria. Mas enquanto os bancos vão bem, quem passa mal são seus clientes. A situação pode se tornar um obstáculo para mover a roda do ciclo virtuoso quando o Banco Central começar a cortar o juro básico – se tudo der certo, em nove dias.