Desde fevereiro no volante da BMW no Brasil, o português Helder Boavida substituiu Arturo Piñeiro, que comandou a implantação da primeira fábrica do grupo no Brasil, em Araquari (SC). Formado em administração de empresas pela Universidade de Lisboa, foi diretor da BMW em Portugal, entre 2008 e 2014, e dirigiu as operações no México antes de desembarcar no Brasil. Na quarta-feira, Boavida participa de reunião-almoço na Federasul, em seu primeiro contato com o RS.
A BMW instalou sua montadora no Brasil quando a economia estava bem. Qual foi o impacto da reversão de expectativas?
Houve impacto, sim, mas procuramos alternativas para minimizar. Uma das formas foi com o início da exportação do X1 para os Estados Unidos, que começa no próximo mês. Temos um contrato de 10 mil unidades que deve se estender a até o primeiro trimestre de 2017. Continuamos acreditando no Brasil, numa expectativa de longo prazo. Quando se tem uma visão um pouco mais à frente, ajuda a não entrar em pânico. Não contentes com a crise, também vamos iniciar a produção, em Manaus, das motos Motorrad, porque o Brasil é um dos mercados top five de motocicletas. São motos acima de 500 cc.
Como estão as vendas da BMW no Brasil?
Em 2015, o segmento premium conseguiu viver melhor, mas neste ano foi inevitável ter uma queda acentuada. Todos os mercados caíram. O mercado geral caiu 32%, as marcas premium foram menos afetadas, mas foram, caíram cerca de 23%, e a BMW, perto de 30%.
Quantos e quais modelos estão em produção no Brasil?
Chegamos a cinco modelos, começamos com o Série 3 e passamos a fazer o X1, o X3, o Mini Countryman e o Série 1. Vamos anunciar em breve a introdução de um novo modelo, ainda neste ano. Uma das grandes características da fábrica de Araquari é seu nível de flexibilidade. Cumprimos o que estava previsto com alguma adaptação, em decorrência da procura do mercado.
A expectativa da montadora em relação a Santa Catarina, em termos de mão de obra e logística foi atendida?
Conseguimos atingir um nível de qualidade no padrão das melhores unidades da BMW no mundo. Tivemos uma fase intensa de preparação e treinamento, mas a qualidade da mão de obra em Santa Catarina é muito alta. E a logística ajuda, temos cinco portos ali em volta, então as expectativas que tínhamos foram cumpridas.
Qual a expectativa da BMW para recuperação do mercado automotivo e retomada da economia no Brasil?
Claramente, 2016 será o ano do fundo do poço. Os mercados interno e global vão cair, o segmento premium também, por volta de 20%. Em 2017, não deve haver recuperação, o mais provável é que as vendas fiquem no mesmo patamar ou com leve recuperação. Contamos com recuperação significativa em 2018 e bastante forte em 2019.
Projetos como o carro da Google preocupam a indústria automobilística?
Preocupa no sentido de que tem de fazer um bom trabalho como montadora, como marca, mas não ao ponto de nos deixar pressionados. A concorrência é salutar. A BMW está a trabalhar nessa área de direção autônoma, conectividade e mobilidadade, não só no conceito de automóvel, mas pensando em car sharing, usado por milhares em várias cidades europeias.
Há uma tendência de os jovens não darem tanta importância à propriedade de carro?
É verdade, notamos que nessas camadas mais jovens, a propriedade do carro perdeu importância. Não interessa tanto a propriedade, mas a mobilidade. Compete a nós, qualquer que seja o tipo de mobilidade, de marcar presença. Sempre vai haver espaço para um tipo de mobilidade premium e outro mais regular.