Tem um assunto difícil que exige toda a nossa atenção. O governo interino de Michel Temer está passando o pente-fino nas contas e revisando o tamanho do buraco nas contas projetado para este ano. Há vários sinais de que o rombo ultrapassa, de fato, os R$ 96 bilhões projetados pelo governo Dilma. Esse número é o resultado da diferença entre as despesas e a receita, e um dos fatores que o torna maior é o fato de que a arrecadação está comprimida pela crise. Há outros: estava prevista entrada de recursos com a aprovação da CPMF, que ainda não ocorreu, e há contas a pagar que ficaram para trás e terão de ser quitadas.
Não se discute que o real tamanho da encrenca seja apurado e exposto. É dinheiro público. Ou melhor, falta de dinheiro público, o famoso déficit. O que inquieta é a velocidade da elevação nas projeções. Na terça-feira, a estimativa era de R$ 125 bilhões. Na manhã desta quarta, passara para R$ 150 bilhões e, à tarde, havia chegado a R$ 160 bilhões. Depende do interlocutor e do critério usado para fazer a conta. Estão envolvidos no esforço o ministério do Planejamento, o da Fazenda e ainda Câmara e Senado, por onde passa o tema.
Agora, preste atenção: do tamanho dessa conta, vai depender a nossa. Quanto maior o rombo, mais necessidade de compensar a receita menor do que a despesa com mais receita, ou seja, impostos. Depois de toda a discussão a que os brasileiros assistiram nos últimos meses, o mínimo que podem exigir, no caso de serem convocados a dar sua contribuição para que as contas fechem – mais uma vez – é que os números sejam claros.
Depois dos ajustes decorrentes do cenário e da limpeza de eventuais esqueletos em armários e gavetas, o número final da conta bilionário deve ser definido entre hoje e amanhã. O governo interino gostaria de ter mais tempo para correr menos risco de erro, mas tem um prazo correndo que não pode perder.
Até o fim do mês, é preciso mudar a chamada “meta fiscal”, o resultado que o governo é obrigado a fazer, sob pena do congelamento de gastos. E o que existe hoje está ainda mais longe da realidade: há previsão de “sobra”, ou superávit, de R$ 24 bilhões. Se o Congresso não aprovar a nova meta, o governo é obrigado a decretar cortes que podem parar a máquina pública. Parafraseando o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, devagar que a conta é nossa.