Enquanto o país debate se faz sentido elevar ainda mais o juro diante de uma recessão profunda e uma inflação persistente, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, adicionou pitadas de suspense em torno da decisão ao afirmar nesta segunda-feira que a orientação da política econômica atual passa por “estimular o crescimento”. Como até a grama da Esplanada sabe que alta de taxa básica tem efeito oposto, a frase aparentemente anódina vai dar o que falar.
Até agora, o Planalto mantinha silêncio sobre a decisão que vai definir o futuro da economia do país em 2016 e até vazou a expectativa de que o Banco Central (BC) elevaria a taxa, entre outros motivos para preservar a credibilidade. Mas a frase do ministro, na data em que foi proferida, não será encarada apenas como uma constatação.
A resistência da inflação ao longo de 2015 desafia o BC. O dilema é conhecido: se eleva a Selic para tentar conter os preços, o BC aprofunda a recessão, se não quiser agravar a queda no PIB, pode perder o controle da inflação – a previsão é de 7% neste ano.
Quando assumiu a pasta em dezembro, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, ressaltou que uma das prioridades do governo seria conduzir os preços de volta ao centro da meta. Conforme o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, o mercado ainda projeta estouro do teto em 2016. O discurso do chefe da equipe econômica guiou as projeções dos analistas e reforçou a impressão de que o BC deve, de fato, elevar a Selic amanhã.
Contudo, poucas semanas antes do encontro do Copom, o governo deu um sinal diferente. A confirmação de que o Planalto deve usar os recursos da quitação das pedaladas fiscais para aumentar a concessão de crédito, feita pelo mesmo ministro, deu um nó na cabeça de economistas – e, possivelmente, nos diretores do BC.
Olímpico, antes de subir aos Alpes suíços Barbosa afirmou ontem que não vê contradição entre os dois movimentos. E cada vez mais economistas ortodoxos, que consideram o controle da inflação como maior objetivo da política econômica, ponderam que, a essa altura, aumentar a taxa básica não vai resolver.