Não parece haver crise em uma indústria de 30 anos que, desde Canoas, exporta até para a China e acaba de se instalar em Austin, Texas (EUA), no "novo vale do silício" conforme o dublê de empresário e piloto de helicóptero Antônio Gobbi. Com o sócio Flávio Perguer, ele toca a Full Gauge Controls há 30 anos. Começaram em uma garagem de 14 metros quadrados e hoje ocupam 6 mil - por enquanto.
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Origens
Antônio foi funcionário da Varig e da Petrobras. Passou no concurso da Refap, mas achava burocratizado e limitante:
- Um superemprego não era uma superoportunidade.
Foi para uma empresa de refrigeração. Lá, percebeu a oportunidade de fabricar controladores eletrônicos - na época, só havia mecânicos. Decidiram que o nome devia ter as letras F (de Flávio) e G (de Gobbi), mas tinham ambição internacional. Surgiu Full Gauge (algo como medida completa).
Made in Canoas
A experiência nas duas grandes empresas inspirou a cultura da qualidade e da exposição internacional. A participação em feiras rendeu venda a EUA, Canadá, África do Sul e Oriente Médio, além da China. No início, conta, só brasileiros paravam no estante, "para matar tempo". Depois vieram os clientes. Gobbi conclui:
- A chave é a perseverança.
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Hobby exigente
O pé na aviação, tanto pela atuação na Varig quanto pelo curso de piloto de helicóptero que fez em 2006 - Gobbi conta que estava entendiado quando resolveu aprender a pilotar - fez a empresa ser mais meticulosa.
- Nesse setor (aviação) só tem certo e errado - pondera Gobbi.
A partir do heliponto no teto da ampliação recente, o R-44 Raven Robinson é usado tanto para transportar clientes quando para premiar funcionários.
Crescimento
Com R$ 44 milhões de faturamento em 2014, a Full Gauge tem metade da receita vinda do Exterior. Nos negócios com divisas, o crescimento foi de 14%. Nos internos, 10% real, acima da inflação. Os números mostram, para Gobbi, que "dá para sair do zero". A primeira "versão" da Full Gauge funcionava em uma garagem de 2,7m x 5,4m, não muito longe da atual sede. Enquanto finaliza retoques no prédio de R$ 6 milhões para onde começa a migrar a produção, mostra uma máquina derrubando uma parede, onde haverá outra expansão - aos lados ou acima:
- Vamos crescer, não vou deixar espaço para mosquito. Vamos até onde a Aeronáutica permitir.
Sem padre e delegado
Toda a tecnologia da Full Gauge é desenvolvida no Brasil por brasileiros. Tem registro internacional de patentes, algo ainda raro no Brasil.
- Muitas deixamos passar, porque tem de registrar até seis meses após entrar no mercado. Agora estamos mais atenados.
O crescimento, insiste Gobbi, não depende de autoridades:
- Não inauguramos nada, não chamamos padre, bispo nem delegado.
Brinde feito em casa
Gobbi ainda encontra tempo para uma atividade mais artesanal. Como participa, desde o início dos anos 2000, de diversas feiras internacionais, decidiu fazer uma parceira com a família Rigon, de Farroupilha, para levar vinhos, sucos e espumantes próprios aos estandes. A produção não é vendida em supermercados, mas chega a 80 mil litros por ano.