Uma das metas da redação de Zero Hora e GaúchaZH neste ano chama-se jornalismo construtivo: em vez de apenas apresentar os problemas, oferecer espaço para o debate das soluções. No mundo todo, pipocam iniciativas de meios de comunicação que, ao repensar seu papel, incluem essa vertente.
Mas o que é isso? Imagine que ZH tenha três páginas – como na edição deste final de semana – para tratar do imbróglio em que está imerso o polo naval de Rio Grande. Uma coisa seria o repórter Leonardo Vieceli apenas chafurdar no problema. Ao final da reportagem, você daria um suspiro e pensaria: "É, não tem jeito mesmo". Outra coisa é, como tentamos fazer, mostrar as alternativas para reerguer uma região fundamental para o Estado. É uma mudança de perspectiva – e uma contribuição maior para a sociedade.
Em Londres, existe até uma ONG chamada Constructive Journalism, que tem como objetivo treinar jornalistas nessa linha. Traduzi livremente alguns pontos da definição deles de jornalismo construtivo:
-Inclui, dentro de reportagens convencionais, notícias positivas e focadas na solução.
-Compreende como as notícias afetam a cultura e o comportamento.
-Foca em um modelo de mundo baseado no bem-estar, ao invés de um modelo de doença – por exemplo, vendo os pontos fortes das pessoas, não só retratando-as como vítimas.
-Tem uma abordagem de solução dos problemas, em que a própria imprensa ativamente endereça temas de interesse do público.
-É um jornalismo crítico, independente, mas com uma mentalidade construtiva, e não destrutiva.
-Promove uma conversação profunda, de colaboração e de construção de consenso.
-Mostra que é possível mudar e destaca oportunidades de resposta da sociedade.
A editora Dione Kuhn relata como a perspectiva do jornalismo construtivo foi aplicada nesta reportagem:
– Ao chegarem à região de Rio Grande e São José do Norte, o repórter Leonardo Vieceli e o fotógrafo Carlos Macedo encontraram um cenário desolador. Na época de ouro do polo naval, ZH foi inúmeras vezes a Rio Grande mostrar como a cidade havia se transformado. Agora, é obrigação nossa, como jornalistas, retornar, não só para mostrar como a população está assimilando a situação, mas, principalmente, quais são as alternativas de recuperação econômica. ZH vai acompanhar de perto os desdobramentos, ficar em cima das autoridades para cobrar eventuais promessas para a região que não foram cumpridas.
O repórter Leonardo complementa:
– Em meio à narrativa sobre os problemas de Rio Grande e São José do Norte, tentamos contribuir ao reportar as mais diferentes visões sobre o mesmo tema. Diante de uma situação complexa, é dever do jornalista apresentá-las aos leitores. A reportagem nasce disto: do diálogo com população local, empresa, governantes e especialistas.