O provérbio “o homem é o lobo do homem” tem um sentido explícito: nós podemos ser muito cruéis com nossos semelhantes. A versão original, homo homini lupus, vem do dramaturgo romano Plauto. Quem a popularizou foi o filósofo inglês Thomas Hobbes, que tinha um olhar crítico quanto à autodestrutividade humana.
A verdade que a frase traz, para quem conhece o mundo, mesmo que minimamente, é indiscutível. O lobo, neste caso, tem o significado de fera, do animal que podemos ser contra outro humano. Usamos a selvageria da natureza como símbolo do mal, para contrapor à humanidade e seus valores.
Na mitologia sobre o lobo, entra o cão, sua versão doméstica. Enquanto o cachorro nos protege, seu contraponto selvagem nos ataca. Por isso essa espécie, em suas duas faces, boa e má, se presta aos contos de fada e lendas do folclore.
O cão, produto da domesticação do lobo há pelo menos ao redor de 20 mil anos, é o nosso melhor amigo. A contraparte é duvidosa, nós não somos tão bons como amigos deles. Veja, é raro um cão nos abandonar, mas nós abandoná-los é trivial. Sem falar quanto à criação de raças pela estética, sem consideração à saúde deles. Um exemplo entre muitos, um dachshund (os salsichas, como são conhecidos), por ter aquele corpo longo de mustelídeo, tem problema crônico de coluna.
O provérbio acima parte da ideia de que os humanos são moralmente melhores do que os lobos. Será? Longe de achar que eles são uma espécie exemplar, os lobos acasalam para sempre, o macho cuida ativamente dos filhotes.
Os lobos nunca matam suas fêmeas. Na disputa pelo poder, o vencedor não mata seu rival.
Não há mortes dentro de uma alcateia, a menos que seja um indivíduo mortalmente ferido, uma morte por misericórdia. Os lobos são sempre leais em relação ao seu grupo.
Como uma espécie que ocasionalmente mata suas mulheres, seus parentes, abandona seus pais, companheiros e filhos pode se julgar moralmente superior? Os lobos são melhores entre si do que nós com nossos semelhantes.
Não é o lobo que devia estar no provérbio. Sinceramente, conhecendo de perto a maldade humana, nem precisamos de um animal, a frase do provérbio bem poderia ser: o homem é o homem do homem.