Passeava pelas notícias, quando minha alma de colono farejou comida farta. A FenaMassa, de Antônio Prado, anunciou seu campeão na modalidade "comer tortéi". Foram 158 unidades em duas horas. Diogo Baldin ganhou folgado, o segundo colocado pontuou 125.
O leitor deve pensar: isto é da série ”não há o que não haja”, e tem razão, a criatividade humana nos surpreende. Como apreciador de tortéi, nunca imaginei a iguaria no cerne de uma disputa pantagruélica.
Estou acostumado com notícias de campeonatos de fast-food e cerveja. Como a do alemão Philipp Traber, que consumiu 50 litros de cerveja em menos de cinco minutos. Ou de Joey Chestnut, o rei do hotdog, que já devorou 75 cachorros-quentes em dez minutos. Joey se destaca também na modalidade de miojo e de ovos.
Nem sempre é fácil ter certeza sobre os campeões. Por exemplo, o romeno Cristian Dumitru, durante uma semana, comeu o seu peso (90,7 Kg) em pizza. O recordista anterior contesta a razão molho/queijo das porções do romeno. Afinal, ralas doses de ingredientes podem ser consideradas pizzas? Eu não estava lá, então me abstenho de opinar.
É um erro pensar que os concursos são só do universo graxa e embutidos, temos concursos sofisticados. O desafio de quantos bombons Ferrero Rocher é possível descascar e comer em um minuto, tem muitos adeptos.
Como todo esporte radical, implica riscos. O pugilista argentino Mario Melo, em 2018, morreu comendo medialunas. Na Índia, Subhash Yadav sucumbiu durante uma aposta de comer ovos. Walter Eagle Tail morreu sufocado por cachorros quentes. Não é lugar para amadores.
Existe muito preconceito quanto a esse esporte. Por exemplo, nunca foi pensado como modalidade olímpica. Também é estranho que os médicos, que sempre estão a nos recomendar esportes, vejam problemas justamente neste tão popular, cadê a coerência? Faz falta uma Federação Internacional dos Devoradores Focados (FIDEF) para organizar e divulgar os atletas.
A Magali, da Turma da Mônica, não vence esses concursos, porque criança não pode participar. Levamos a infância inteira enfrentando os desafios de novos sabores, a ser educados - a contragosto - para uma alimentação equilibrada. Magali ainda não domou seu apetite onívoro e insaciável. Como ela, os devoradores olímpicos moram dentro de nós. Crescendo, contemos nosso ogro interior, mas ele está ali, farejando os chocolates da vida. Ou tortéis!