Qualquer um já presenciou a cena. Uma criança faz um garrancho no papel e um dos pais, ou cuidador de plantão, se desmancha de elogios pela "arte". Como se um novo Picasso estivesse nascendo.
O subtexto que dá sentido seria que elogiar as crianças propicia autoestima, tornando-as mais confiantes, especialmente para a vida escolar. A questão é: isso funciona?
Não funciona e é contraproducente. Não é opinião minha, é de uma pesquisa clássica em psicologia. E nada nova, pois é de 1988. Já deveria ter se tornado senso comum entre quem se dedica aos pequenos, mas não a assimilamos ainda.
Claudia Mueller e Carol Dweck, em uma pesquisa na universidade de Columbia, pediram a 128 crianças — entre 10 e 11 anos — que resolvessem problemas de matemática. Depois que cada uma concluía a primeira fase, os pesquisadores diziam apenas uma frase de elogio. Parte delas era elogiada pela inteligência e as outras pelo esforço. Algo como: você fez um ótimo trabalho, é bem inteligente; as outras: você fez um ótimo trabalho, deve ter se esforçado bastante.
Na segunda parte, os exercícios exigiam mais delas. E aqui que entra a questão: as crianças que foram elogiados pelo esforço criaram estratégias novas para resolver as questões e se saíram melhor. As que foram elogiadas pelo intelecto fizeram caminhos mais simples, apenas insistindo naquilo que já sabiam. Examinando atentamente, descobriu-se que o elogio à inteligência as deixava mais ansiosas e menos confiantes.
Moral da história: elogiem apenas o esforço e quando este for genuíno. Crianças fazendo coisas de crianças não é novidade de outro mundo. De fato, os adultos não ficam verdadeiramente com as crianças. Quando estas chegam, mostrando algo e pedindo seu olhar, as compensamos pela nossa ausência. O elogio muitas vezes é uma esmola de atenção, um interesse de mentira.
Não é casual que haja tantos pais contemporâneos que supõem ter um pequeno gênio em casa. Educar com algum grau de exigência requer esforço e este pressupõe humildade. Valor que anda em baixa no mercado. Já a ideia tosca de que a inteligência seria um dom, em alta. Porém o esforço, verdadeira ferramenta da construção da inteligência, inclui contornar entraves, suportar frustrações. Estamos frente a uma geração de pais que pensa o filho como um presente da vida, quase pronto. Portanto não ensina a disciplina, não exercita a mola da tenacidade, que fará dele alguém capaz de se superar.
Você quer realmente ajudar seu filho? Sente no chão e brinque junto. Quando ele desenhar, mostre participando como ele pode melhorar, colocar mais cor, ou criar uma maneira nova de representar algo. Você estará ao lado dele e este é o melhor encorajamento. Dá trabalho, muito trabalho, mas quem disse que é fácil educar filhos?