Passei os últimos anos estudando adolescência. Meu último livro, junto com Diana Corso, é sobre o tema. É desta intimidade recente com o assunto que digo que a campanha pela abstinência sexual dos adolescentes, que será lançada neste mês, tem tudo para ser inócua.
O mote não é errado, que se diga para não ter pressa para iniciar a vida sexual, qualquer um poderia assinar embaixo. Afinal, vivemos uma sociedade que espera muito do sexo e da identidade sexual. Essa expectativa é uma promessa que não se cumpre. Não pelo exercício da sexualidade em si, mas pela propaganda exagerada.
Minha questão é que campanhas devem ser feitas para o adolescente real, não o que nós gostaríamos que ele fosse. Essa campanha pela abstinência só vai atingir quem já pensa nessa direção, quem tem conduta sexual entre fóbica e cautelosa – não tome como crítica, é uma estratégia válida para alguns. Porém deixa desamparada a ampla maioria, que já faz sexo e se iniciou quando, com quem e como desejou. Estes precisam de informações para saber como cuidar-se para não engravidar, para não pegar doenças sexualmente transmissíveis, e não conversa que negue essa realidade.
Uma coisa é o que se diz, outra o que se escuta. Para a maioria dos adolescentes, sugestão sobre postergar a vida sexual vai soar como: “Seja criança por mais tempo”. Vai parecer o conselho de um medroso para outro. O adolescente busca signos da vida adulta, quer partir da infância, por isso se lança em aventuras arriscadas. Uma delas é com a vida sexual, que pode ser um falso passaporte para a maturidade, mas é daquelas coisas que só se aprende vivendo.
Não necessariamente o sexo na adolescência é um problema. Sexo só traumatiza quando é abusivo. Se dois adolescentes, com idades e experiências parecidas, iniciam uma vida sexual, onde também existe uma troca afetiva, essa vivência não deixa sequelas. Saem mais maduros da experiência.
Se não dermos informações claras aos adolescentes sobre a sexualidade, eles vão procurar saber por seus pares, tão perdidos quanto eles mesmos. Ou vão recorrer à pornografia, que está ao alcance de três cliques na internet.
Somos uma civilização curiosa, temos o sexo em alta conta, mas não educamos para tal e não dispomos de uma cultura erótica artística. Ensinamos o tabu, o medo e o silêncio. Por isso buscamos nas sombras imagens e saberes que traduzam nossa sexualidade.
Quem teve uma adolescência com experiências sexuais vai vida em frente. Quem não teve fica com uma pendência, como se a vida lhe devesse isso. Alguns, na meia-idade, voltam a ser adolescentes. Mas então como seres anacrônicos, tristes figuras em busca do paraíso quimérico do sexo que não tiveram na juventude. Aqui o trauma é pela falta de uma vivência genuína e satisfatória de sexualidade.