O separatismo aproveita a crise econômica para ressurgir. Dessa vez abraçando os irmãos do sul: com Santa Catarina e Paraná faríamos uma nova nação. O plebisul, plebiscito informal, tem percorrido o sul, recentemente foi no noroeste do Paraná. O lema é : o sul é o meu país.
A consulta quer mobilizar e difundir a ideia dessa nova pátria. Nossa Catalunha querendo brotar. Livres do peso do Brasil, supostamente decolaríamos. Acreditam que nós sulistas teríamos uma unidade anímica. O eixo programático é apenas esse _ não há outra reivindicação, unidos apenas para sair do Brasil.
Não se trata só do poder, mas da incapacidade de perceber inteligência nas ações vindas das províncias
Sinceramente, não enxergo uma diferença que justifique a nova nação. E quando algo começa culpando os outros, estou fora. Procurar um judas pelos nossos dramas é o caminho errado. O problema do sul, especialmente o nosso Estado, é o sul. Fizemos escolhas erradas e pagamos o preço. Simples assim.
Pela pluralidade, o Brasil existir é um prodígio. Foi forjado a ferro e fogo pelo império e o sul recebeu o mesmo DNA. Divididos seremos um brasilzinho porque nossa alma seria a mesma. Claro que existem diferenças entre os nossos Estados, mas elas são na superfície e não na essência. O valor do trabalho, o racismo, o elitismo, o autoritarismo e o descaso com a educação são os mesmos. O cerne do Brasil é sua herança escravocrata mal resolvida, o resto é firula.
Observe o Estados Unidos, uma nação complexa, múltipla, composta de regiões com experiências diversas. Mas o pacto nacional que os fundou impregnou em todos um espírito comum. São o peso da história e as marcas da fundação que fazem um país, não a origem de seus habitantes.
O centralismo de Brasília é intolerável. Já era o do Rio de Janeiro imperial e depois republicano. Essa é a outra das nossa marcas. Nós não experimentamos as diferenças locais para ver o que funciona melhor, deixar cada região agir a seu modo para comparar. Recebemos do governo uma diretriz sobre como operar. Somos feitos de cima para baixo.
Esse vício do império nunca resolvemos. Não sabemos ser uma federação e tirar proveito das diferenças. Direita e esquerda têm a mesma posição: os dois esperam chegar ao poder para irradiar seu programa. Ninguém questiona, pede ou cria opções para uma autonomia federativa.
A simpatia com o separatismo alimenta-se do hipercentralismo, que rebaixa a todos. Não se trata só do poder, mas da incapacidade de perceber inteligência nas ações vindas das províncias. Se algo não está economicamente no eixo Rio-São Paulo, e politicamente na Capital, tem pouca chance no Brasil.
Brasília é uma Terra do Nunca por várias razões, uma delas é o propósito de amarrar por cima uma federação de fantasia. O separatismo colabora com outro delírio: o de fazer uma nação sem um novo pacto, apenas apontando culpados.