Coincidência não é. Todas as crises de alcance global das últimas décadas com potencial de estremecer o planeta têm origem em ditaduras. A mais recente, a assombração chavista sobre a indefesa Guiana, é um caso exemplar dos caminhos tortuosos que regimes autocráticos percorrem para se manter no poder.
A Venezuela de Nicolás Maduro segue à risca o manual dos déspotas. Identifica um tema histórico que acenda o nacionalismo, inventa inimigos externos e manipula o fervor popular em apoio ao ditador. O chavismo repete tardiamente a receita da junta militar argentina, que há 41 anos galvanizou os argentinos com sua aventura nas Malvinas. Inebriada, a junta não supunha que os ingleses despachariam uma frota para o Atlântico Sul e que a cúpula do regime seria humilhada, derrubada, julgada, condenada e presa.
Nos anos 90, foi o ditador Saddam Hussein que urdiu a falácia de que o Kuwait era um estado iraquiano e invadiu o vizinho assentado sobre uma piscina de petróleo. Saddam acabou na ponta de uma corda em cima de um alçapão, mas a crise de então até hoje faz espocar guerras e atentados na região. Em outro bulling em estado bruto de uma ditadura sobre o vizinho mais fraco, a Rússia de Putin arquitetou uma interpretação para lá de criativa sobre a Ucrânia, meteu a Europa numa guerra, e provocou milhões de refugiados e dezenas de milhares de mortos, além de isolar o próprio povo russo.
Mais ditaduras contratando crises? O regime teocrático do Irã e os terroristas que sustenta no Hamas fizeram desencadear um massacre medonho e uma nova e terrível guerra no Oriente Médio que sustou os acordos de paz entre Israel e vizinhos. Para janeiro de 2024, há mais um abalo mundial à vista. Se, como tudo indica, o vice-presidente de Taiwan, William Lai, a favor de maior independência em relação à China, vencer as eleições, Pequim reforçará a possibilidade de invasão e domínio da ilha que produz a maior parte dos chips de alta sofisticação, usados, por exemplo, para inteligência artificial.
Ditaduras, como se vê, fazem mal à saúde do planeta. Não foram democracias que invadiram a Polônia em 1939 ou atacaram Pearl Harbor em 1941. Nos dois casos, as ditaduras alemã e japonesa despertaram a ira de aliados poderosos. Por isso, o melhor jeito de impedir ditaduras de se prevalecerem sobre os mais fracos não é passar a mão na cabeça delas, como Lula tem feito. Para o bem da humanidade, o ideal é estimular a substituição das autocracias por governos democráticos. Ou, como fazem EUA e Europa, dissuadir os belicosos pelas ameaça das armas, a única e definitiva linguagem que ditaduras parecem entender.