Concluí há algumas semanas um antigo plano: fazer o contorno do Rio Grande do Sul sobre duas rodas. Batizei-o de A Grande Volta do Rio Grande. Após percorrer 2,5 mil quilômetros, dos quais um terço em estradas de chão, e de muitas reflexões com o capacete, pude chegar a algumas conclusões:
– O Rio Grande do Sul é enorme – maior do que o Reino Unido e sete vezes a Holanda. Meio óbvio, por certo, mas geralmente só vamos de um ponto a outro. Ao se dar a volta no Estado, contempla-se a real extensão do Rio Grande do Sul e sua incrível diversidade. Tenho a impressão de que se poderia viajar todos os dias por décadas e não se conheceria todas as maravilhosas estradinhas gaúchas.
Ao se dar a volta no Estado, contempla-se a real extensão do Rio Grande do Sul e sua incrível diversidade
– O Rio Grande do Sul é tremendamente subaproveitado para o turismo. É preciso conhecer para proteger. Só aquilo que valorizamos tem defesa permanente. A Serra e o Litoral estão bem consolidados e merecem a fama e os recursos do turismo. Mas há um potencial extraordinário em outras regiões. Para ficar só nos contornos, o interior de Caçapava do Sul, o Pampa e as margens do Rio Uruguai, além dos extraordinários Campos de Cima da Serra, são algumas das áreas que deveriam atrair mais atenção. Já o miolo do Estado teria uma lista telefônica de outras atrações.
– Na maioria das regiões acima, pode-se fugir das muvucas turísticas e mergulhar no Rio Grande mais profundo, com boas opções de hospedagem e gastronômicas. Mas há muito por que avançar. O Parque Estadual do Turvo, por exemplo, que foi corretamente concedido à iniciativa privada, só abre de quinta a domingo. Como atrair turistas de passagem pelo noroeste do Estado com tal restrição? Quem vem ao Rio Grande também espera encontrar costumes gaúchos – e não música sertaneja estourando nos alto-falantes de restaurantes ou só pizzarias em cidades menores.
– Se seus interesses primeiros forem história e cultura, Porto Alegre, Santa Maria, Pelotas, Caxias, Rio Grande e outras cidades dão conta do recado. Mas me arrisco a dizer que a natureza gaúcha, do que resta da Mata Atlântica às lagoas e à vastidão do Pampa e do Litoral Sul, são o que o Rio Grande tem de mais diferenciado. Proteger e valorizar o ambiente no Rio Grande do Sul é um patrimônio insubstituível.
– Você não pode querer conhecer o Rio Grande e ficar com o carro limpo. Grande parte desse território mais diverso só é alcançável em estradas de chão. Há lugares, como o antigo Forte do Caty, no interior de Livramento, quase inacessíveis e fechados ao turismo. Fosse na Escócia, haveria ônibus de excursão na porta e atores reencenando as histórias de degolas no local. Por enquanto, até o Google Maps se atrapalha em indicar o caminho para lá.