O Pampa virou assunto na COP28. Primeiro, o vice-governador Gabriel Souza anunciou que o Estado assumiu a coordenação regional do bioma Pampa no âmbito do Consórcio Brasil Verde – Governadores pelo Clima, o que pode, na visão do Piratini, gerar financiamentos para proteger a área, que ocupa 68% do território do Estado.
Nos bastidores, o deputado estadual Matheus Gomes (PSOL) vem buscando, em Dubai, articulação com parlamentares dos países que compartilham o Pampa com o Brasil. Ele explica que a área está passando por uma situação muito difícil, com graves perdas de seus ambientes naturais, sua riqueza biológica e cultural.
- Aqui, na COP, apresentou-se a singularidade, mas não o problema. Todo mundo sabe dos problemas da Amazônia. O Rio Grande do Sul não pode vir para cá, pela importância da articulação com Argentina e Uruguai, e querer fazer algum debate sobre a questão ambiental que anula a realidade do Pampa, que foi, na minha opinião, o que eles (o governo gaúcho) fizeram - afirma o deputado. - Discute-se agricultura, hidrogênio verde, transição, mas partindo do quê? É uma manobra para vender uma imagem que não é verdadeira, porque, quando se chega lá (no Estado), os problemas são muito maiores.
O parlamentar encontrou na deputada Martina Casas, da Frente Ampla, uma aliada para levar o tema adiante. Em conversa com a coluna, a jovem política uruguaia afirmou que o Pampa já ocupou 90% do território de seu país. Entre 2000 e 2011, passou a 60% e, de 2019 para cá, foi reduzido a menos de 50%. Martina destaca o avanço da fronteira agrícola, em especial a pecuária, que gera gás metano, poluidor do ambiente.
- O Pampa é muito bom para preservar carbono, para conter água e evitar as crises hídricas. O Uruguai viveu uma das piores crises hídricas este ano - explica.
O Pampa é também um tema geopolítico. Os uruguaios plantam soja no Paraguai (Chaco), enquanto argentinos e brasileiros têm produções agrícolas no Uruguai.
- A mudança do uso do solo no Uruguai é provocada por agente externos - diz Martina. - É fundamental trabalharmos regionalmente. Se regulamos as atividades no Uruguai, podemos afetar RS, Paraguai e o norte da Argentina.
Ela lembra que, sob o Pampa, está localizado o aquífero guarani, imensa reserva de água doce que abrange partes dos territórios de Uruguai, Argentina, Paraguai e Brasil.
- Proteger o aquífero implica proteger o bioma que está acima dele. O bioma Pampa é o bioma do aquífero - afirma.