Os números de quase uma década de responsabilidade fiscal no Rio Grande do Sul já não são meras estatísticas. De uns tempos para cá, começaram a se materializar em obras, redução da insegurança e até em investimentos em setores vitais mas marginalizados em governos de cofres raspados, como turismo, ciência e cultura.
Uma parte deste mérito deve ser atribuído a governos e à Assembleia, que resistiram a tentações populistas e encaminharam reformas duras, mas a estrada para mudanças estruturais foi pavimentada graças a parcela considerável da população que cansou de trabalhar e pagar impostos para manter uma máquina pública que vivia em função de si mesmo.
O esgotamento de um Estado inchado e perdulário é a melhor notícia das últimas décadas no Rio Grande do Sul. Mas a novidade está longe de ser unanimidade – veja-se, por exemplo, a procissão de propostas e reivindicações que remontam ao regime militar, quando governantes venderam a falsa ideia de que o Rio Grande do Sul era um estado rico. Resultado: engordaram as folhas do funcionalismo e concederam benesses que hoje, 40 e 50 anos depois, ainda estamos pagando.
A noção de que, como numa casa, um governo só deve gastar aquilo que arrecada alimenta a expectativa de que o Rio Grande do Sul, independentemente de quem seja seu governador, não entorne o caldo de novo. No Brasil, lembre-se, esse desastre já ocorreu. Em novembro de 2009, uma das mais prestigiadas publicações do planeta, The Economist, presenteou o governo Lula com uma capa na qual o Cristo Redentor era ilustrado como um foguete e o título “O Brasil decola”. Menos de quatro anos depois, em setembro de 2013, outra capa mostrava o mesmo Cristo numa queda em parafuso e o título “O Brasil perdeu a chance?”.
A deterioração, como se viu, vem a galope se não for contida por um parlamento responsável e por forças da sociedade amparadas por correntes significativas da opinião pública que cansaram do discurso de preservação de privilégios estatais travestido de defesa do patrimônio público. A boa nova é que o Rio Grande do Sul tem a chance de vir a ser uma ilha de prosperidade e qualidade de vida. Mas não basta apenas acertar as contas públicas – essa é a base.
O Estado tem de acompanhar e cobrar de perto a promessa do governador Eduardo Leite de fazer da educação uma prioridade, se consolidar como um bastião de respeito à diversidade e capturar a revolução tecnológica para absorver jovens e trabalhadores que correm risco de ficar à margem da economia do futuro. Não menos importante, precisa fazer valer ao Brasil e ao exterior que a marca Made in RS será cada vez mais sinônimo de tradição de qualidade, modernidade, tenacidade e trabalho duro e ético.