O resultado do segundo turno para presidente é uma incógnita, mas não apenas o nome e comportamento do vitorioso serão decisivos para o futuro do país. Depende de quem, e de como ele perder, o ambiente de estabilidade política e econômica pelos anos à frente no Brasil.
Caso Lula seja o derrotado, as alternativas se estreitam para ele, que deve disputar a última de suas seis campanhas para presidente. Mesmo vencido, Lula tem lugar de destaque na galeria dos líderes mais populares da história brasileira. Nesta posição, atuará como um oráculo para guiar a esquerda, provavelmente em alianças mais ao centro, para impedir uma concentração de poder ainda maior de Jair Bolsonaro.
Lula já disse que é “uma ideia”, o que é bem plausível para quem já foi do auge do prestígio internacional a um quarto de prisão na Polícia Federal e regressou ao palco político como um líder fulgurante de metade do Brasil. Bem maior que seu partido, o PT, essa ideia, hoje com trânsito de Guilherme Boulos a Armínio Fraga, é que deve mover um Lula batido nas urnas como líder de uma eventual resistência, dentro e fora do Brasil, contra tentações autoritárias em um segundo mandato de Bolsonaro.
Já Bolsonaro tem dois caminhos para a possível condição de derrotado. No primeiro, copia seu ídolo Donald Trump, rejeita o resultado das urnas e tenta se entrincheirar no Planalto amparado em ações violentas de seu núcleo mais fanatizado. A alternativa é um salto no escuro sem rede. De um lado, é muito improvável que militares, mesmo de baixa patente, arrisquem carreiras e liberdade para atentar contra a democracia. De outro, um Bolsonaro que lidere ou estimule reações de força bruta ao veredicto das urnas acabaria, mais dia, menos dia, condenado junto com os sediciosos. Para quem tem dúvidas, segue a transcrição do Artigo 5, inciso XLIV, da Constituição: “Constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”.
A outra opção, um Bolsonaro estridente mas conformado com o resultado eleitoral desfavorável, deixaria o atual presidente em primeiro plano na oposição. Bolsonaro é o primeiro guia de massas a surgir no Brasil depois de Lula - e o único com o rótulo de uma direita radical. Com esse patrimônio, se credenciaria a liderar o bloco opositor e preparar uma possível volta à Presidência pelas urnas de 2026, quando terá 71 anos – seis a menos do que Lula hoje. Não seria pouca coisa a se trocar por uma aventura contra a democracia que enterraria as chances de Bolsonaro e do clã que se prepara para um dia herdar os votos do bolsonarismo.