Quando vai chegando a eleição presidencial, desconfie dos políticos que atacam o “mercado”, um suposto inimigo oculto ideal para fertilizar teorias da conspiração e a unção do candidato, é claro, que o fará se dobrar a sua vontade. O tal mercado, não custa lembrar, é um ente formado por toda e qualquer transação econômica. Quando você compra um ovo, está – ainda que em parcela ínfima – ativando a lei da oferta e da procura. Se muitos comprarem ou deixarem de comprar ovos de repente, os preços tenderão a oscilar. E, se não houver confiança dos produtores de ovos, eles escassearão, o que pode levar a uma corrida pelos ovos remanescentes, para o desabastecimento e uma disparada nos preços.
Ninguém terá apertado um botão de maldades. O mercado se regula em quaisquer circunstâncias ou sistemas econômicos e, quanto mais intervenções sofre, mais escapa do controle. A Turquia é um desses casos. O presidente Recep Erdogan é um autocrata que decidiu intervir na marra na taxa de juros, mandando seu Banco Central derrubá-la contra todas as evidências em contrário. Resultado: a lira turca desabou 40% e a inflação anual chegou em janeiro passado a 48,7%. Como bom populista, Erdogan culpou o serviço de estatística, e trocou seu diretor pela quarta vez.
Afrontar as leis básicas do mercado pode render o apoio transitório de quem está sufocado por juros ou preços altos. José Sarney e Collor de Mello buscaram a popularidade fácil e congelaram os preços. Só criaram mais desabastecimento, inflação e juros. Caíram em desgraça, assim como Dilma Rousseff e sua obsessão por intervenções estatais, a exemplo da desastrosa interferência no sistema energético há 10 anos.
Não se pense também que o mercado é um filho perverso do capitalismo. O papel de malvadão cabe ao mercado paralelo, esse sim um rebento típico de sistemas totalitários e economias sob tutela absoluta do Estado. Em minhas andanças por União Soviética, Cuba e Venezuela de prateleiras esvaziadas, sempre topei com economias subterrâneas onde podia-se comprar do bom e do melhor desde que se tivesse dólares no bolso ou se fosse apaniguado do poder. O mercado paralelo não dá bola para ideologias ou bravatas. Quanto mais intervenção, mais negócios nas sombras e mais crise – principalmente para os mais pobres e a classe média.
Na busca desesperada pela popularidade, o presidente Jair Bolsonaro desprezou leis primárias da estabilidade. Furou o teto fiscal, corroeu a confiança e agravou a inflação no Brasil, que, entre os principais países, só ficou atrás de quem no ano passado? Turquia e Argentina, outras campeãs da irresponsabilidade fiscal e do intervencionismo.