O nome era Meg, mas nós a chamávamos de Gorda. Pela própria raça, tendia a ser roliça. Era mansa, preguiçosa, carinhosa, sempre atrás de mim pela casa. Deitava-se invariavelmente do meu lado esquerdo quando eu ia para o computador. Na sala, à direita da minha poltrona, onde eu podia fazer-lhe carinho e conversar com ela. Quando a comprei, há uns nove anos, era minúscula, com aquela carinha comovente de pug, olhos grandes, focinho achatado, rabinho enroscado. Com o tempo, cresceu mais do que o esperado, ficou difícil carregar no colo.
Quando tinha uns quatro anos, comprei-lhe uma irmã: Melanie, a spitz, ou lulu-da-pomerânia, uma raposinha mignon que se aninhou no meu pescoço quando a peguei na pet, e me seduziu imediatamente, incondicionalmente. Era em tudo diferente da Gorda: focinho fino, olhos de gazela. Melanie é uma raposinha que finge ser um cachorro, que pensa que é gente. Eram uma dupla engraçada, mas muito amigas: instalavam-se lado a lado na poltrona vermelha da sala, às vezes Melanie atormentava a pug com suas brincadeiras, puxando-lhe orelhas e rabo, ou acabavam dando suas corridinhas pela casa. Meg era a minha gorda melancólica, com aquele ar enternecedor da sua raça; Melanie, uma pluma de pelos longos sempre querendo colo.
No último ano, a minha Gorda amada começou a ter sérios problemas de saúde: respiração difícil, já não conseguia subir na poltrona vermelha, alergias fortes e resistentes a quase todos os muitos remédios, problemas em um ouvido, que por fim levaram a uma cirurgia delicada e longa. Era inevitável: mais de um veterinário consultado, melhor pet, melhor clínica, mas meu coração de mãe estava inquieto. Passou alguns dias numa excelente clínica, onde a gente a visitava. Muito cansada, pouca fome (antes, devorava o que lhe déssemos), sem vontade de brincar. Queria ficar perto da gente. Dormia, às vezes, no tapete junto da minha cama, cabeça sobre minhas Havaianas. Nós, preocupados e impotentes.
Todos estavam otimistas, a Gorda acabou voltando para casa, sacudindo aquele seu improvável rabinho enrolado. Mas não era mais a mesma.
No sábado à noite, parecia mais cansada do que de costume. Quando fui ao seu quarto na manhã de domingo, meu peito gelou: não conseguia levantar mais. Tomei-a nos braços, ainda pesada, chamei socorro, voltou para a clínica, de onde seguidamente ligavam com notícias de que estava estável, no soro, e ficaria tudo bem.
Na noite desse mesmo domingo, Melanie, a raposinha, correu duas ou três vezes ao quarto da irmã e voltou nos encarando com seu focinhinho atento. Queria nos dizer alguma coisa, ela está sempre dizendo coisas. Na manhã seguinte, o telefonema da veterinária. Nem precisou dizer: “A Gorda morreu”. Morreu de madrugada, parada cardíaca, tudo rápido, sem drama nem alarido, do jeito que sempre foi: mansa, quieta. Não sei se existe um céu de cachorros, de bichos, mas algo daquela sua energia bondosa continua por aí e pela casa. Vai ser cremada, vamos enterrar a urninha em algum lugar bucólico.
São muito humanos esses bichos de estimação criados conosco. Talvez alguns de nós devêssemos nos tornar mais caninos: sem tanta raiva e rancor, tanto conflito e neurose, mas com o amor incondicional e a paz que eles, os nossos pets, nos trazem.