Minha mãe, dona Wally, foi uma mulher linda, alegre, otimista. Lembro de seu passo enérgico no corredor, a voz cantando no jardim quando mexia nas suas rosas, a risada clara conversando com meu pai. Adorava viajar, adorava suas tardes com amigas (e primas) jogando cartas, adorava jogar tênis, e adorava acima de tudo meu pai, meu irmão e esta que aqui escreve – que, eu acho, nunca correspondeu direito ao que ela imaginava ser uma menina, jovem ou mulher contente, normalzinha. Nunca aprendi a jogar cartas, a jogar tênis, a arrumar o quarto (a empregada fazia isso muito melhor do que eu, era o meu argumento). Na cadeira, empilhavam-se minhas roupas, o armário era uma confusão, até ela jogar tudo no chão para eu arrumar do jeito que era bonito. "Tem meninas que empilham calcinhas e pijamas conforme a cor, e amarram com fitas lindas". Eu achava aquilo uma perda de tempo lastimável. Queria ler, sonhar, ser feliz, quieta e em paz. Queria entender o mundo.
Família
Dona Wally, minha mãe
Cuidei dela até o fim: já não me reconhecia, enrolada no xale da sua ausência
Lya Luft
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