Já escrevi, e repito, que sou de uma família de professores: meu pai, o pai dos filhos, agora um filho, eu mesma ex-professora de linguística, até descobrir que aquela não era minha vocação. Me dava alegria o contato com os alunos, me fazia sofrer toda sorte de regras, por mais justas que fossem. O tema educação me é muito próximo, muito querido, é mesmo fundamental, e começa com aquela educação em casa, onde as crianças aprendem limites e possibilidades, voos e raízes, compostura, gentileza, firmeza, discernimento – mesmo os menorzinhos. Aprendem por osmose (sem diálogos solenes) questões de respeito e afeto. Quando forem à escola, não serão os pequenos selvagens que os pais entregam para que os mestres os transformem em civilizados.
O professor deveria ser, na pirâmide geral, um dos funcionários mais bem pagos, porque dele dependem futuro, postura, preparo, eficiência e humanidade de jovens e crianças – e, não é metáfora, do país. O mestre deveria ter excelentes condições de trabalho, para continuar a se preparar, para acompanhar os alunos, dialogar, escutar, reconhecer como pessoas, não importa se têm quatro ou dezoito anos. (E para que nos intervalos professoras não tenham de vender docinhos ou lingerie às colegas, e os professores fora do horário na escola não tenham de fazer bicos a fim de dar de comer aos filhos.)
Acredito, de maneira quase feroz, na necessidade de despertar, não só entre os responsáveis mas no povo em geral, a noção clara de que na educação devemos buscar excelência, o que não tem a ver com elitismo – todos temos direito ao melhor, que não significa dinheiro. Que a escola possa dar o melhor ambiente (basta que seja decente, sem ser um palácio), com os melhores professores, para que os alunos possam também descobrir, e cultivar, o melhor de si. Não é justo achar genial que se deve aprender brincando – não falo em criancinhas de maternal –, reproduzindo o hábito de muitas famílias em que não se pode dizer não ou dar um leve castigo (uma hora sem tablet já assusta) porque a criança, o adolescente, ficaria traumatizado. E assim os tratamos como pequenos ou grandes imbecis. Fazemos muita cerimônia com esse assunto: numa palestra, um professor me perguntou que motivo dar aos alunos para que estudassem. Minha resposta foi totalmente espontânea: "Para que não fiquem burros". Risada geral, aplausos, e até eu fiquei refletindo nisso: deixar de ser ignorante é, mais do que um dever, um direito de todos.
E não me digam que os governos estão falidos. Talvez estejam falidos o ânimo e a vontade geral, começando pelas autoridades, contagiando famílias, os próprios jovens e – por que não? – as crianças. Nada justifica que, mesmo empobrecidos e assustados, iludidos por cada vez mais novos projetos e comissões palavrosos e ineficazes, não se coloque a educação em primeiro lugar em qualquer orçamento. Gente preparada vai colaborar nas condições de vida, saúde, economia, na melhoria da existência de indivíduos, no progresso geral, e na administração decente da tão maltratada coisa pública.
De modo que, se consertarmos um pouco que seja nossas nada brilhantes cabeças, talvez a educação deixe de ser uma utopia.