Não sei decidir qual é o pior. Quatro graus de horror: (1) a jovem bem posta na vida que pediu e ganhou o dinheiro do auxílio emergencial, que não paga quem sabe nem uma ida ao seu cabeleireiro; (2) a advogada dela que, sabendo que era uma patifaria esse recebimento, aceitou ir ao juiz requerer que o caso, descoberto pela imprensa, não viesse a público; (3) o juiz que aceitou bloquear a imprensa nesse assunto, de visível sensibilidade pública dado o cenário atual, com empresas precisando parar de trabalhar e trabalhadores perdendo salário, tendo ao fundo gente morrendo aos milhares; (4) a juíza que, em grau de recurso, confirmou o bloqueio à divulgação.
Quer outra lista de horrores? Voltemos umas casinhas nesse jogo. (1) O presidente negacionista que, mesmo com evidências variadas mundo afora, resolveu convocar rede de tevê para dizer que era uma gripezinha e que ele, ex-atleta, não teria problema, como dizendo que os não jaires tratassem de dar um jeito, o problema não era dele. (2) O mesmo presidente que desde então desfila pela rua sem máscara, causando aglomeração e estimulando, até uns dias atrás, um inesquecível acampamento, de 300 que eram 30, que pregava a violência contra o STF. (3) O mesmo presidente que era contra o foro privilegiado e que agora defende o mesmíssimo foro privilegiado, vistos os não poucos problemas com sua família. (4) O mesmo presidente que, tendo um ministro da Saúde escolhido por ele mesmo e que funcionava bem, articulando decisões com estados e municípios e liderando o país no combate à pandemia, o frita em público e o demite por... Por que mesmo?
Ah, sim: porque esse ministro, segundo o presidente, estava aparecendo demais e não o elogiava, a ele presidente, tanto quanto ele mesmo, o presidente, achava que merecia.
Ou pode ainda ser pior juntar as duas listas? Que tal se a jovem da primeira lista, vivendo numa cidade de gente comum, que trabalha e sua para levar a vida, for documentada, como já foi, como eleitora do presidente mencionado na segunda lista? Lembrando: o presidente se elegeu essencialmente para acabar com a corrupção.
O jornalista Roberto Jardim lembrou, no Facebook: essa jovem, ladeada por muitos outros casos, talvez centenas, de eleitores gaúchos que fizeram barbaridade semelhante, essa jovem prega mais prego no caixão da autoilusão do “gaúcho, melhor em tudo”.
Bem, uns 33% ainda devem dormir acalentando essa fantasia.